quarta-feira, 18 de junho de 2008

Código da Vida

Depois de algum tempo sem postar, por pura falta de tempo e de inspiração, parece-me que pelo menos a inspiração voltou e com tudo, cá estou eu novamente! Eu sempre fui assim, meio que de lua. Tem época que podem me colocar num liquidificador e que pouca coisa sairá (e que preste), mas tem época também que as idéias surgem como a água da chuva que está caindo agora, enquanto eu escrevo aqui: forte e em grande quantidade.
Fato é que da semana passada pra cá vieram-me várias idéias e pensamentos, inspirados é claro nos livros, filmes e debates com que tive contato neste mesmo intevalo de tempo. Meu único medo é que eu esqueça metade das coisas que eu tenho pensado, antes mesmo de externá-las.
Começarei então pelo "Código da Vida", do Saulo Ramos. Apesar de ter começado a lê-lo já a algum tempo (e eu até que estava em um ritmo bom), eu tive que deixá-lo de lado por uns dois meses. Sabe como é, a gente tem que se dividir entre as leituras obrigacionais, as não obrigacionais mas que de certa forma nos cobra um pouco mais de atenção e paciência, e aquelas que se faz despreocupado, sem apego algum, apenas por hobby e pra esfriar a cabeça. Pois bem, o livro do Saulo me ocupou a 3° opção, apesar de que algumas vezes me deu mais dor de cabeça do que relaxamento. Mas também, acho que é quase impossível se ler sobre política e não ter certas dores de cabeça derivada de indignação. Fato é que finalmente, no sábado que se passou, eu o terminei. Que livro!
Engraçado que este livro me foi recomendado pelo pai de uma grande amiga minha, enquanto passávamos férias em São Paulo. Ele estava lendo e depois de algumas conversas ele percebeu que eu gostava de ler e me indicou a obra. Eu agradeci, claro, e falei que iria ler, mais por educação do que por vontade mesmo. Não que eu nao confiasse no gosto dele, mas é que à época dos fatos, eu estava entertida com o livro do Percival de Souza - "O sindicato do crime. PCC e outras facções" - livro esse que por sinal me tirou algumas noites de sono das minhas tão desejadas férias. Talvez pelo fato de eu estar passando férias em São Paulo e o PCC ser de lá. Quem sabe!.
Pois bem, como eu não tinha tempo para lê-lo, indiquei a uma amiga. Ela o comprou imediatamente e começou a ler, disse que estava gostando muito (não sei o quanto, porque até a última vez em que nos falamos, ela ainda tava estancada lá pelas cento e algumas páginas). Sendo assim, depois de terminado o livro do Percival, li mais alguns outros que já estavam na fila, e com pressa (como por exemplo o Rota 66 do Caco Barcelos, que me fez andar SP inteira atrás até me convencer de que estava de fato esgotado), até que um dia resolvi fazer minhas agradáveis compras pela net e ele estava em promoção. Que maravilha, não tinha mais desculpas, pelo menos não para não comprá-lo. Comprei. Li mais alguns na frente dele, e quando ele já não aguentava mais me ver trocá-lo por outro eu resovi escolhê-lo dentre uma pilha de outros que ainda quero ler. Grande escolha a minha. O livro já começa bem: empolgante e chamativo. Estava fazendo jus as recomendações do meu amigo juiz, pai de minha amiga que já não sabe mais, muito bem, o que quer da vida. Pois bem, li - tive que parar por um tempo -, até que acabei no sábado, como já falei antes.
Que bela história, dessas que nos arrancam algumas lágrimas dos olhos e um sorriso sem graça daqueles que se dá quando nos envergonhamos por estar chorando na frente dos outros (e olha que eu estava só em casa, deitada em minha cama. As únicas pessoas que poderiam presenciar tal cena, no mínimo engraçada, seriam os moradores do prédio ao lado, e que tem a cozinha quase que de frente pro meu quarto).
O livro é uma mistura de romance, com política, direito e principalmente MORAL! Que grande moral tem esse autor (e ética também, que preferiu trocar o nome dos personagens principais, para preservar a imagem de seus clientes, haja vista que o autor era advogado) e os personagens por ele narrados. Ao redor do caso principal, o do Sr. Olavo Brás, Saulo faz uma espécie de retrospectiva dos tempos políticos em que vivemos(ele, que foi influente jurista no Brasil em nossa época ditatorial, principalmente). Pra se ter uma idéia da importância do cara, ele foi acessor do Jânio e praticamente "mão direita" do Sarney (se é que ele é destro). Digamos que era uma espécie de consultor da "raposa" da política brasileira. Mais do que consultor, é amigo também, a ponto de chamar o ex-presidente de Zé.
Saulo foi, indubtavelmente, importante para história do Direito do Brasil. Engraçado como se faz "fama" no Brasil; eu nunca tinha ouvido falar dele, mesmo cursando direito e com todo o currículo que ele construiu. Mas alguém aí não conhece o Roberto Jefferson e amigos??? Aqui no Brasil é assim, só se faz história e é lembrado, ou depois de morto ou sendo muito escroto pro Pais. Talvez por isso eu nunca tenha ouvido falar nele. Que me perdoe o Saulo.
O livro me inspirou muito, me mostrou um pouco de luz no fim do túnel que cada dia que passa escurece mais. No país do futebol e do mensalão, dá gosto saber que ainda tem gente que nem sempre como pizza no fim da festa; se é que deu pra entender. E isso só confirmou o que eu já achava: Direito é dom! Claro que há aqueles que simpatizam com a matéria e tals, e aqueles outros (milhões) que acham que o direito é uma Ciência - e exata ou então, que é mera utopia - e que farão deles pessoas ricas e poderosas. Basta ir pra faculdade, "aprender a ler códigos", e fazer os cálculos: se A, mata B = 30 anos de prisão! É mais ou menos assim que o Direito tem sido estudado ultimamente. As "ias" (filosofia, sociologia, criminologia, psicologia) têm sido deixadas para trás, ou então não têm sido estudadas com a importância que devem. O problema é que as pessoas não percebem que o Direito só é considerado uma ciência humana por causa das tais "ias", se não, pouco se diferenciaria da matemática, física, engenharia e etc. Por isso que eu digo que pra fazer Direito, direito; tem que ter dom, e muita pesistência. É preciso se enxergar muito além do que mostra um VadeMecum, é preciso interpretar muito além do que falam as doutrinas e jurisprudências; afinal de contas, elas não são as donas da verdade. A única verdade que podemos seguir sem medo no ramo do Direito, é a do coração (desde que não seja o mesmo coração que, influenciado pelo show midiático do dia-a-dia, roga pela pena de morte, pela redução da maioridade penal ou mesmo elege o Capitão Nascimento como o novo herói do Brasil), mas o coração dos heróis Shakesperianos - aqueles que tiverem de fazer o que tinha de ser feito, encarando as consequências. Porque em algumas situações, razão alguma nos levará a decidir um caso tão ardiloso tão bem como fez o atual Ministro César Peluso na história do livro, época em que ele ainda era Juiz. E isso me motiva, porque sei que apesar de poucos, assim como o Peluso, com certeza há outros que atuam com amor na profissão e não por ganância social e econômica. De fato, o final do livro é emocionante, em todos os sentidos. Vale a pena ler.
Falando em pessoas que atuam bem porque atuam com amor à profissão, tenho que aproveitar pra dizer que grande parte da minha inspiração também vêm do meu trabalho, das minhas experiencias do dia-a-dia, fora da sala da teoria "utópica" de todos os santos dias. É engraçado como os adultos de hoje gostam de jogar a responsabilidade para nós jovens, os adultos de amanha. "Vocês são o futuro da nação", é o que eles dizem! O que eles esquecem é que todo mundo, quando faz algo, se espelha em alguém. Portanto, nós, jovens, "futuro da nação", de certa forma temos que nos espelhar neles. E que exemplos são esses que eles têm nos dado? Sendo assim, eu tenho que me ajoelhar todos os dias pra agradecer à Deus pelos exemplos que Ele têm colocado no meu caminho. Pessoas que não precisam ser identificadas, mas que quero que saibam, de alguma forma, que têm sido minha inspiração e minha luz no fim do túnel nos dias mas conturbados da minha vida de futura jurista. Pessoas honestas, que tem o dom do Direito, hérois Shakesperianos e acima de tudo: humanos. Que conseguem ver além do que o poder pode lhes proporcionar e que não mudam seu caráter por causa disso. Pessoas que conseguem estender a mao ao próximo,mesmo quando se encontram no topo, e que não desanimam com a injustiça e a falta de reconhecimento humano, pelo que fazem, pois acreditam na justiça, reconhecimento e recompensa divina. Portanto, àqueles que tem me dado força, oportunidade e grandes exemplos, meus sinceros agradecimentos: Juizes, Advogados, Delegados, Docentes, Doutrinadores, Amigos, colegas de estudo e trabalho, e os políticos, é claro, que me dão constatemente exemplos... do que não deve ser seguido.
Àqueles que estão estudando por um direito mais justo, por um Direito humano e não exato deixo-lhes a lição de Zaffaroni: façam das utopias, idéias concretas de um futuro próximo e jamais confundam o pessimismo que nos é deixado de herança, com o desânimo consequente de uma guerra que nunca acaba.


PS: Quanto ao livro, uma coisa só me desagradou: O Saulo que me desculpe, mas ele puxa muito o saco do Sarney, e que a história do golpe dado na Roseana, não me convenceu (mas parece que, ao fim da obra, ela já não estava tão satisfeito com as atitudes do Sarney).

Alanna Sousa