segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Muito prazer: me chamo Brasil"

O Brasil, país da desigualdade, vive desigualmente momentos de avanços iguais. Igual é queda do número de desempregados e o aumento da violência; enquanto uns lutam por emprego, outros, tão mortos de fome, lutam por um pedaço de grade para se amarrar e dormir,dentro de uma cela, tentando sobreviver a mais uma noite na prisão.
“A crise é dos ricos”, disse o Presidente Lula no Fórum Social Mundial de 2009, em Belém-PA. Também são dos ricos os avanços científicos e tecnológicos que geram mais lucro pros seus bolsos e mais pobreza para suas cobaias. Crise essa que fez aparecer dinheiro, sabe-se lá de onde, para salvar os seus bancos e empresas privadas; geradores da crise.
Fala-se em mandar ajuda aos povos africanos que morrem de Aids e de fome; esquece-se de salvar os cariocas do mosquito da dengue e os maranhenses e catarinense desabrigados pelas enchentes.
Talvez, se se tratasse os iguais com igualdade e os desiguais com desigualdade, como já pregou Bobbio, as balanças econômica e social se equilibrassem. Mas como isso não acontece, todos são tratados com “igualdade”, haja vista ser um “mandamento constitucional”, e a desigualdade apenas se perpetua.
E em meio a tudo isso, ainda se houve falar em direitos humanos. Mas de que humanos está se falando? De humanos demasiadamente humanos que tratam os seus iguais com desigual desumanidade e os deixam à margem da igualdade.

Alanna Sousa Coolerman

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Ladies and Gentleman, welcome aboard"

E ela viajava em busca de um velho-novo. Chega, sozinha, ao aeroporto, lotado; vê gente. Tenta se encontrar no meio da multidão. Choque de culturas, línguas, interesses?!? Enquanto uns correm e imploram a atenção de famosos, ela ri da mediocridade, ou da facilidade de se fazer um brasileiro, feliz.
Aguarda, sentada (quando dá) na sala de espera, também lotada. O vôo está atrasado: caos aéreo; tem mais avião voando do que nuvens enfeitando o céu. Quem mandou serem feitas de algodão? Os pilotos passam por cima.
Chamada para embarque: a fila cresce, e ela vai caminhando para o seu portão enquanto ouve: “senhoras e senhores, chamamos para embarcar no Voo 123, com destino qualquer. Convidamos para embarcar primeiramente idosos, crianças, gestantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Do meu lado direito, favor fazer fila as pessoas com assentos marcados de x a y. Ao meu lado esquerdo, favor fazer fila as pessoas com assentos marcados de y a z”. Fica na fila. Ticket: ok! “Faça uma boa viagem”.
Chega no avião: rostos (des)conhecidos esperam, sentados. O corredor, apertado, vira passarela: políticos, modelos, músicos, artistas, “ordinary people”.
Procura o assento e checa o bilhete para saber se é ela que ela está no lugar certo, ou se a pessoa sentada no seu suposto assento, é quem está errada. Já aconteceu de os números serem iguais?!?... culpa da aeromoça que disse que não precisava descer em uma CONEXÃO.
Finalmente encontra o assento certo; às vezes, praticamente na cozinha – e pensa: “devia ter feito o check-in pela internet” -. Pelo menos está mais perto do banheiro. Torce para ainda ter espaço no compartimento de bagagem – e pensa: “para que eu trouxe tanta tralha?”.
Hora de sentar: TENSÃO! a) se pegou o corredor: ótimo. O joelho corrompido pelos anos de judô e os kilos a mais, agradece; b) Janela: tem onde apoiar o pescoço, pode olhar o Cristo Redentor do alto e tentar descobrir se as nuvens são de fato “feitas de algodão”; c) Corredor: LASCOU! – e pensa, novamente: “por que raios eu não fiz a porcaria do check-in pela internet??”.
Enfim, senta! Ajeita o assento, afivela o cinto e tira os fones do ouvido, só para evitar matar uma aeromoça “delicada” que não sabe como te acordar, no meio da viagem.
Começa a aquela velha ladainha: “portas de emergência...; luzes ao chão...; máscaras cairão...”; e, finalmente, o triste “obrigado por escolher a nossa companhia aérea” (ok, o discurso muda, um pouco, de companhia para companhia, mas eu também não estou muito afim de fazer propaganda de graça). Como se a gente realmente tivesse muita opção para se escolher.
Escolhe-se entre voar no horário mas voar apertado e comer barras de cereal com suco de laranja (para os de dieta) ou comer amendoim com Xingu (para os gordinhos); ou se estressar no check-in que foi encerrado 1hora antes do previsto - pelo simples fato da companhia ter vendido mais passagens do que assentos disponíveis no vôo, e tu, “perdeu, playboy”. Aguarda eles te encaixarem no próximo vôo e, se tiver saco, entra na justiça reclamando danos morais (já que no Brasil, tudo é motivo para entrar com ação com pedido de danos morais) -, voar atrasado, mas voar “pseudamente” menos apertado, e comer pão – de três dias – requentado, que pelo menos, enche mais e ajuda a enganar, melhor, as lombrigas.
De repente: “tripulação, decolagem autorizada”. Faz o sinal da cruz 3xs (já nem sabe mais se por fé ou superstição), beija a tattoo do Cristo, na nuca, fecha os olhos para não sentir enjôo, e, finalmente, decola.
Sempre dá a sorte de sentar perto de uma criança que tá aprendendo a falar, e por isso não cala a boca a viagem inteira; ou de um bebê que chora por não agüentar a pressão e sentir dor no ouvido; ou de um garoto que se acha a nova estrela do Rock com o seu novo violão, que foi, com muita dificuldade, acomodado em algum canto do avião, pela generosa aeromoça, e ainda fica olhando o visor do teu celular pra saber que música tu está escutando, só para puxar assunto.
O sinal de afivelar cintos, é apagado: põe os fones de volta nos ouvidos e procura por assentos vazios para deitar e, com sorte, encontra (quando não voa, é claro, por aquela companhia lá de cima, que vende passagens a mais, atrasa vôos e causa “overbookings”).
Quando finalmente deita, o avião começa a chacoalhar e o sinal de afivelar cintos é reaceso: “com sua atenção, senhoras e senhores: aqui é o comandante da cabine. Pedimos que afivelem os cintos, pois estamos atravessando uma área de instabilidade”. Aí ela pensa: “ou eu sento para colocar o cinto e tento dormir, sentada; ou finjo que não ouvi e continuo deitada”. Mas lembra de ter visto na TV, pessoas que arrebentaram o teto do avião (e a cabeça, por óbvio) por não estarem com o cinto afivelado e terem sido pegas de surpresa em uma turbulência com direito a vácuos no ar. Imediatamente ela senta e afivela o tal do cinto: “Ok. Durmo sentada para evitar dor de cabeça”. Assim que se senta, o sinal de afivelar cinto é novamente apagado. Deita. O sinal é reaceso: “atenção, tripulação, preparar para o pouso”.
Finalmente, pousa. E escuta o velho discurso, inútil, de sempre: “Senhores passageiros, bem-vindos ao seu destino. Favor permanecerem sentados até que o aviso de afivelar cintos seja apagado. Lembramos que não é permitido fumar a bordo, e que o uso de aparelhos celulares só é permitido no saguão do aeroporto”. NINGUÉM OBEDECE! “Passageiros em trânsito para X, favor permanecer na aeronave. Passageiros com destino a essa localidade, favor desembarcar. Passageiros em conexão, favor desembarcar e aguardar informação no saguão”.
Vai esperar a bagagem. A sua está vindo no ÚLTIMO carrinho – e pensa: “isso é que dá trazer uma mala tão grande. Bom, mas pelo menos não foi extraviada”.
Chega ao saguão do aeroporto. Lá fora, ninguém lhe espera, a não ser o pobre e cansado taxista que mal abre os olhos por que passou a madrugada trabalhando, mas tem que trabalhar mais, por que, no fim das contas, “acaba a grana, mês ainda tem”.
Em meio a tantas viagens, tanta gente, tantos transtornos, encontros e desencontros conclui que aquilo ali é a forma que ela tem de fugir da rotina; é a sua válvula de escape. Aonde vai leva um pouquinho de si e deixa por onde passar; traz de volta o mundo dos lugares e pessoas que conheceu. Talvez, perdida na multidão de muitos outros, se encontre, ou se perca de vez...


Alanna Sousa Coolerman

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

CRITICA DE ARIANO SUASSUNA SOBRE O FORRÓ ATUAL

"Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!".
A maioria das moças, levanta a mão.Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda (que se diz de forró) utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas as bandas do gênero). As outras são "gaia", "cabaré", e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste pernambucano (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da Banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de "forró", e Ariano exclamou: "Eita que é pior do que eu pensava". Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura); Zé Priquito (Duquinha); Fiel à putaria (Felipão Forró Moral); Chefe do puteiro (Aviões do forró); Mulher roleira (Saia Rodada); Mulher roleira a resposta (Forró Real); Chico Rola (Bonde do Forró); Banho de língua (Solteirões do Forró); Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal); Dinheiro na mão; calcinha no chão (Saia Rodada); Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca); Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró); Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.Porém a culpa desta "desculhambaçã o" não é exatamente das bandas ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo... E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando- se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado, Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa!!!Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!?!?!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é "E vou dá-lhe de cano de ferro!", alguma coisa está muito doente.
Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.Ariano Suassuna

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Presentes do Presidente


Acho que já deixei um pouco claro que eu não sou lá muito fã do nosso presidente. Eu bem que tento não falar muito dele, mas ele provoca, não tem jeito...
Ultimamente o Lula anda muito presenteador. É incrível a “criatividade” desse cidadão para escolher presentes para figuras importantes do cenário da política internacional. Alguns dias atrás esse caro molusco ao se encontrar com o Presidente Norte-Americano Barack Obama, o presenteou como uma camisa da Seleção Brasileira de Futebol, autografada; o único “detalhe” é que a camisa era da Seleção da Copa de 2006 (sim, aquela em que o “dream team” perdeu vergonhosamente pra França. Sabe como é, né: estrelas sempre caem do céu, e as estrelas da seleção brasileiras me pareciam ser bem cadentes...) e grande parte dos jogadores que a assinaram, na época, já não mais representam nossa seleção nos dias atuais. Ou seja, a camisa ficou engavetada por dois anos até chegar nas mãos de Obama (para a infelicidade das traças e mofos) que de tão “feliz” que deve ter ficado com tamanho presente, é capaz de dormir com ela.
Não bastasse essa ratada, hoje Lula voltou a pisar na bola, LITERALMENTE: ao se encontrar, no palácio do Itamaraty ,com o Presidente Nigeriano Umaru Yar´Ardua, Lula o brindou com uma bola de futebol autografada por ninguém mais, ninguém menos que PELÉ. Tudo bem, Pelé é até hoje considerado o Rei do Futebol Mundial, mas foi também protagonista de uma das maiores cenas de racismo talvez já vista na TV, quando o mesmo negou a paternidade de sua filha, bem como se recusou a entrar com ela na igreja no dia de seu casamento. O motivo? A cor de sua pele (“coincidentemente” da mesma cor, NEGRA, que ele, seu PAI). Resumindo: Para um Presidente negro, de uma nação predominantemente negra, receber uma bola de futebol autografa pelo Rei do racismo é realmente um presente e tanto (de Grego, eu diria...). E depois ainda tem quem reclame que o Brasil só é reconhecido mundialmente pelo futebol, carnaval, louras geladas e morenas “bundudas”, não é isso, grande DaMatta??

Alanna Sousa Coolerman

sexta-feira, 24 de julho de 2009

"Falou o Presidente..."

Foi divulgada essa semana uma entrevista em que o nosso caro e pomposo Presidente Lula comenta as escutas telefônicas do Sarney; o mesmo pareceu irritado com as denúncias e os (pré)julgamentos feitos não só pela sociedade como também por políticos e parlamentares, tendo em vista que tais denúncias estão sendo feitas baseadas “apenas” em grampos telefônicos. Para Lula, “Não podemos tratar tudo como se fosse crime de pena de morte”. Ainda na mesma entrevista, o mesmo continuou afirmando que “É preciso saber o tamanho do crime. Uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir emprego, outra é fazer lobby. Tem que fazer as investigações corretas”.
É perceptível aqui a grandiosidade do problema que o Brasil alcançou, quando ouvimos o próprio chefe de nosso Estado falar tamanha barbaridade para todo o país ouvir. Percebe-se mais uma vez uma grande inversão de valores na nossa sociedade, onde os crimes de colarinho branco (atos secretos, lobbys, lavagem de dinheiro etc) passam desapercebido na grande maioria das vezes e, quando são divulgados e criticados, parecem ter o apoio de nosso presidente. Ora, meu caro Molusco, não há dúvidas de que todo crime deve ser julgado antes de condenado; isso é princípio processual. O que não entendo é o porquê de tal princípio só ser “clamado” quando o réu é um velho, branco, barbudo e rico (à custa do pobre povo maranhense). O mesmo não ocorre com o preto e o pobre.
Nossos valores foram invertidos; agigantamos o problema da violência urbana em prol da minimização dos crimes de colarinho branco, sem nos dar conta da relação mútua entre um e outro. O Lula fala em roubo e homicídio como grandes bestas-feras (e propõe a pena de morte como solução) enquanto que trata o lobby como um crime qualquer. O problema talvez esteja na mania que temos de culpar sempre o elo mais fraco da relação. Como diria uma ex-Profa. minha, quando se trata de violência, temos o costume de ligar tal palavra com sangue ou algo do tipo. Lesão corporal se resume à cortes de faca e perfurações à bala. Mas não seriam lesões corporais, por parte do Estado, não prover alimentação e moradia ao seu povo? O corpo de uma criança que bebe, toma banho e pisa em água contaminada por falta de saneamento básico não seria um tipo de lesão corporal? E não seriam esses tipos de crimes, merecedores de uma pena de morte (caso a mesma viesse a fazer, de alguma forma, sentido?) E de quem é a culpa? Não seriam, também, de nossos governantes que desviam dinheiro público para contratar parentes e empregadas domésticas e “conselheiros espirituais” com salários de R$ 8.000,00?
O que falta para o Brasil crescer é saber pôr cada coisa em seu devido lugar, é o povo se levantar e lutar pelo o que é seu de direito. Não basta votar (e até votos estão sendo desrespeitados), mas saber brigar pelo seu voto. É não tapar os olhos para certos crimes e abrir a boca apenas pra reproduzir o discurso do senso comum. É saber ser cidadão de direitos muito mais que somente nos dias de eleição.
Espero que todos esses vexames transformados em denúncias dêem algum resultado; que não sejam ofuscados por escândalos da vida pessoal de um político, mas que seja levado em conta o escândalo de sua vida pública para com o seu povo; que não seja esquecido pela ansiedade de uma copa do mundo ou por números falaciosos jogados na mídia. Que a justiça seja feita de maneira realmente justa, não só com crimes políticos, mas, e principalmente, com os crimes de violência urbana, cujo tratamento costuma ser desigual. Quanto ao pronunciamento do nosso Presidente, eu só tenho a lamentar... tanto quanto tudo o mais que ele costuma dizer e fazer.

Alanna Yara Sousa

terça-feira, 21 de julho de 2009

"Onde é que eu troco de canal?"

Sabe todos aqueles livros e filmes que você assistiu e leu na infância? Possivelmente os gostos não mudaram. Tudo depende do humor e/ou da companhia: dias frios: cabe um bom romance ao lado da pessoa querida; dias quentes: que tal um pouco mais de ação? Dias aziados: uma boa comédia romântica cai bem; dias de chuva: filmes de terror com a galera!
Enfim, são vários os gostos, várias as ocasiões: o melhor de tudo, é que caso você não goste, basta sair da sala de cinema, ou mesmo mudar o canal; afinal de contas, pra isso que inventaram o tal do controle remoto. Mas e quando não dá pra mudar de canal?? E quando todos esses estilos se juntam, se transformam em um só e decidem fazer parte da tua vida real? Well, “welcome to MY life”.
De repente, em questão de meses, eu vejo toda a minha vida virar de cabeça pra baixo, e começo a viver todas as histórias que já li/assisti durante essa minha passagem terrena (que não é nada, não é nada, mas já são quase 21 anos sobrevivendo à tudo e todos...). De repente, não mais que de repente, familiares são baleados debaixo do teu nariz e tudo que tu podes fazer é chorar; teu namoro que começou feito um conto de fadas, acaba feito novela das 8 ("absurdamente") e tu te apaixona por quem tu menos espera, faltando 11 dias pra tu te mudar para o outro lado do Brasil e tentar (re)começar o que se chama de vida; e falando em vida, pra terminar de lascar, tu descobre que a tua, bem como daqueles que tu mais ama, tá em risco. O que fazer então??
Contando, ninguém acredita. Queria eu poder encher esse post com a riqueza de detalhes que essa minha história da vida real (que um dia eu espero se transformar em estória – e não se espantem se um dia eu escrevê-la e publicá-la) me permite ter. Mas não, isso não é possível, pelo menos não agora. Por enquanto, tudo o que posso fazer é escrever esse pouco pra tentar tirar da minha cabeça, pelo menos 1kg da tonelada de preocupação e angústia que tem me afligido e me tirado o sono. Quisera eu ter a tal “penseira” do mago Dumbledore, pra poder guardar certas memórias em uma estante; exceto pelo fato de que certas coisas, eu nunca guardaria.
Ao fim e ao cabo, só peço à Deus que, já que ele me deu essa “bendita TV à cabo” com diversos canais; que me dê de brinde, ao menos um controle remoto (de preferência, estilo “click”) pra que eu possa, no mínimo, escolher assistir um canal por vez. E que assim seja feito, Amém!

sábado, 2 de maio de 2009

LUTO[3]

Morreu na madrugada desta sábado (2) o diretor teatral, dramaturgo e ensaísta Augusto Boal. Segundo informações de parentes, ele estava internado no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Boal tinha 78 anos e sofria de leucemia.
Boal foi fundador do Teatro do Oprimido. Em março de 2009, Boal foi nomeado pela Unesco embaixador mundial do teatro.

Segundo informações do hospital, o diretor foi internado no dia 28 de abril, com quadro de infecção respiratória. O motivo de sua morte, de acordo com o hospital, foi insuficiência respiratória. Ele morreu por volta de 2h40 deste sábado.

Boal foi uma das grandes figuras do teatro contemporâneo. Formado em química, estudou dramaturgia em Columbia, Nova York.

Segundo o amigo do dramaturgo e também diretor teatral Aderbal Freire Filho, o corpo de Boal foi velado até 17h na capela do Hospital Samaritano. O corpo será cremado no domingo (3) no Cemitério do Caju.
Ainda de acordo com Aderbal, no dia do teatro Boal foi convidado a fazer um pronunciamento na sede da Unesco, como representante da classe teatral. O diretor já teria ido debilitado e voltou pior.

Um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, Augusto Boal nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de março de 1931. Ganhou notoriedade com seu Teatro do Oprimido, cuja proposta era transformar o espectador em elemento ativo do espetáculo. Segundo ele próprio, conceito que ensinava "as pessoas a se inserirem na sociedade".

O poeta Ferreira Gullart destacou a importância do diretor: “Boal foi um dos criadores do teatro moderno brasileiro. Eu to falando do teatro moderno tendo como marco o Teatro de Arena. O Teatro de Arena inicia uma nova etapa do teatro brasileiro caracterizado pelo engajamento político, pela busca de expressar os anseios e o inconformismo do povo, do trabalhador e da juventude, sempre por uma perspectiva de engajamento de luta e transformação da sociedade. O Boal encarou isso e a vida inteira foi um batalhador nessa ação. Ele foi um diretor de teatro excelente. Lembro na inauguração do Grupo Opinião, ele foi chamado por nós pra dirigir o show Opinião. O show se tornou um exemplo de um novo teatro musical. Era um companheiro, um amigo muito legal e uma figura humana admirável.”
É nessas horas que eu concordo, com toda a devida vênia, com o grande Amilton Bueno de Carvalho quando diz que "Deus não é nada Democrático". =//
"Where do all the good people go??" (JacK Johnson)

sábado, 25 de abril de 2009

Viva o "Vossa Excelência"


Essa semana o Brasil presenciou uma cena que tem se tornado bem comum no cenário do STF. Uma discussão bastante belicosa entre dois Ministros do Supremo trouxe à tona um ponto de reflexão a nós cidadãos brasileiros: qual a imagem que se pode ter do maior Tribunal de Justiça da Nação?
De um lado da discussão se viu o atual Ministro do Supremo, Gilmar Mendes – jurista esse de integridade questionável e de merecimento do atual cargo mais questionável ainda, cujos discursos costumam ser pobres e falhos, como foi a sua palestra aqui em São Luis sobre o Sistema Prisional Brasileiro. Para quem não se lembra, o Excelentíssimo Ministro foi quem mandou soltar Daniel Dantas sobre a justificativa de que não haviam provas do cometimento de algum crime pelo mesmo, mesmo depois de ter ido ao ar, pelo Jornal Nacional, uma reportagem que mostrava a gravação de uma conversa em que Dantas tentava subornar com 1 milhão de reais, um Delegado Federal.
Do outro lado do “circo judiciário” se encontrava o Ministro Joaquim Barbosa – o único Ministro negro do País, cuja Revista Veja tratou de intitular como sendo um “negro de alma branca” devido aos seus hobbys e costumes, bem como a sua formação intelectual e a capacidade de aprender novos idiomas. O Ministro Joaquim também ficou conhecido por ser considerado um “jurista de peito”, por ter sido o autor das denúncias do escândalo do tão famoso mensalão, dentre outros assuntos polêmicos que o pôs na mídia.
A discussão que se mostrou de cunho completamente pessoal, gerou um clima de tensão na Suprema Corte e foi alvo de várias críticas, depois de ser divulgadas pelos veículos informativos existentes. Ali, Joaquim Barbosa fez uma séria acusação contra o Presidente do Supremo; o de não ser um Ministro digno de seu cargo e o de estar difamando a imagem do Judiciário brasileiro.
Verdades à parte, o que realmente me entristece nisso tudo é a repercussão que um espetáculo desses acaba por gerar. Ora, se um próprio colega de trabalho é capaz de fazer tais afirmações em pleno julgamento, que podemos nós, pobres e leigos cidadãos, pensar e esperar da nossa justiça? Como pode tal órgão ter credibilidade entre o seu povo, se os nossos juristas não nos passam segurança?
Eu, particularmente, acho que apesar de não ter passado da mais pura verdade tudo aquilo que foi falado pelo Barbosa, não creio que ele tenha escolhido um bom lugar para tratar de assuntos pessoais; sim, pessoais, pois que todas as palavras desferidas contra o Gilmar o alfinetavam pessoalmente, e não como Ministro em si. A partir do momento em que se fala mal do Presidente do Supremo, se está diretamente falando mal da Suprema Corte, e isso é preocupante. Além do mais, tenho sérias dúvidas se essa situação não foi causada pelo Barbosa com intenções de se auto-afirmar como um “Jurista de peito”, revelado pela mídia.
Mas o melhor de tudo, foi ver como são classudos os nossos Ministros. Apesar da tensão entre eles, o “Vossa Excelência” em nenhum momento deixou de ser utilizado, mesmo quando para difamar um colega de trabalho e uma figura importante do cenário jurídico-político nacional.
Como já disse uma vez: é nessas horas que eu teria orgulho de vestir a camisa Argentina!


Alanna Sousa



Link do vídeo da discussão: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1011207-7823-GILMAR+MENDES+BATE+BOCA+COM+O+MINISTRO+JOAQUIM+BARBOSA,00.html

domingo, 29 de março de 2009

Lombroso não morreu

" Duzentos jovens em idade escolar, alguns com apenas 13 anos, foram classificados como potenciais terroristas pela polícia britânica, informa o jornal “The Independent”. A identificação foi feita por um programa que procura adolescentes “vulneráveis” à radicalização islâmica."
Mais de cem anos após a sua morte e a criação de um paradigma etiológico que identificava o criminoso como sendo um ser patoligacamente determinado a cometer delitos, a "Teoria Lombrosiana" continua a aterrorizar e a ser divulgada pela mídia sensacionalista.
Percebemos nesse pequeno trecho da reportagem do jornal britânico, que tal idéia, ao contrário do seu criador, está mais viva do que nunca. Ainda tem gente que pensa ser capaz de adivinhar a "periculosidade" de alguém - e nesse caso estamos tratando de jovens adolescentes que talvez ainda nem tenha atingido a puberdade - por meio de "sintomas" sócio-culturais (ou seriam sócio-raciais/etno-sociais?).
A reportagem segue dizendo que "O trabalho é focado em comunidades muçulmanas. Quando o jovem é identificado como potencial terrorista, ele é submetido a um programa de conscientização, que inclui conversas com os pais, líderes religiosos e com a própria polícia.
Bettison diz que o programa não criminaliza os adolescentes." Ou seja, aqueles jovens mulçumanos que "aparentam" e demonstram um certo "repudio" aos países ocidentais, são considerados vulneráveis e passíveis de integração à grupos terroristas. Sendo assim, escolhe-se uma etnia, uma religião e uma faixa etária para etiquetar como sendo "periculosa" e que, portanto, necessita ser tratada através de "medidas de segurança." E ainda afirmam não estarem criminalizando esses jovens.
Questiono então como é possível que um país integrante da ONU e tão frequentemente debatedor dos Direito Humanos, pode escolher tal etnia para etiquetar com tamanha acusação, ao invés de fazerem tal trabalho com jovens estado-unidenses que desde que nascem são submetidos a lavagens cerebrais que os fazem crer que se deve lutar a qualquer custo pela defesa de uma bandeira que está pendurada em sua janela; mesmo quando o custo de tal defesa se refira a vida de outros jovens inocentes iraquianos que têm a sua vida tirada e sua fé religiosa desrespeitada, tudo por ganância, mas sobre a "justificada" desculpa de se estar apenas "protegendo" o mundo de fanáticos religiosos.
Resumo da ópera: os jovens britânicos de etnia mulçumana perderam a sua liberdade de expressão, pois o fato de não concordarem com certas atitudes tomadas por líderes ocidentais, pode ser considerado uma forte propensão à atitudes terroristas.
Só não entendi muito bem de que tipo de terrorismo estamos tratando, e quem é ,de fato o verdadeiro inimigo que deve ser combatido. Mas agradeço à Deus de não ter nascido no País
de Vossa Altíssima Realeza e de só ter herdado de meus descendentes àrabes, o tamanho do nariz; porque se a moda pegar e o nosso Presidente-marisco resolver imitar a graça britânica, podem ter certeza de que eu farei parte desse grupo.
E quando eu penso que já vi de tudo...



Alanna Sousa

quarta-feira, 18 de março de 2009

O que o Mastercard não paga!



*Bicicleta Caloy: R$200,00;
* “Vida” de um detento dentro da Penitenciária de Pedrinhas: R$ 500,00;
* “Vida” de um ser-humano: NÃO TEM PREÇO.
Para todas as outras coisas existe, Mastercard, Visa, Hipercard, Fininvest, Cheque Especial, Conta Universitária etc...
No mundo neo-liberal, capitalista e globalizado em que vivemos, é comum se colocar preço em tudo que vemos. Também é natural querermos o tênis, a roupa, o celular, ou seja lá o que estiver na moda. Nossos olhos gordos - alimentados pela lavagem cerebral do mass media (mídia em massa) diário a que nos submetem os jornais, a TV, os rádios e a internet - não nos livram o bolso de nos enforcarmos com as milhares de prestações que nos concebem as lojas, ou o pagamento mínimo que os cartões de crédito nos permitem pagar. Mas e quando o dinheiro não dá pra pagar nem uma parcela ou mesmo o mínimo do cartão? Alguns se conformam com a idéia de não ter o objeto desejado; outros apelam para meios ilícitos de adquiri-los, quais sejam o furto, o roubo, o latrocínio, o tráfico etc.
Assim o fez Maycon Viegas de 18 anos de idade, que após furtar (o furto se difere do roubo pela ausência de violência na ação delitiva) uma bicicleta, foi preso e encarcerado nas dependências do Presídio de Pedrinhas. Lá, Maycon se deparou com um outro questionamento: quanto vale a vida humana? “Aqui, a minha vale R$500,00”, escreveu ele em uma carta endereçada aos pais. Esse valor era destinado ao pagamento do “seguro” a que se submetem os presos recém chegados ao Complexo de Pedrinhas. Aquele que não paga, é morto; como Maycon não conseguiu o dinheiro a tempo, acabou perdendo a vida nas mãos de tantos outros miseráveis que ali se encontram, muita das vezes, por receberem o estigma de criminoso.
Não estou defendendo, muito menos negando a criminalidade. Estou apenas alertando para a inflação do índice de criminalização a que os sistemas de punição informais (igrejas, escolas, família, mídia etc) submetem os seres desprezíveis e vulneráveis da nossa sociedade de políticos corruptos. Questiono-me sobre a real (in)efetividade da prisão como caráter re-educativo ou re-socializador da pessoa humana. Mas como se re-socializar alguém que nunca foi socializado, que nunca fez parte de sociedade que o julga e o condena sem lhe deixar espaço para o contraditório e a ampla defesa? Como tratar um humano a quem nunca fora oferecidos subsídios suficientes para viver como tal? O que se pode esperar de alguém que é tratado de uma forma sub-humana, por meios de métodos Ludovicos que nunca deram certo?
A mídia enfatizou essa notícia na segunda-feira que se passou. Muitos se disseram estarrecidos com o fato; outros deram “graças a Deus”; afinal de contas, “é menos um bandido no mundo” e “menos um ocupando espaço na cela”. O que a mídia não questiona nem alerta é sobre as mazelas que a lavagem cerebral comercial que ela nos proporciona. No fim do mês “as pessoas estão condenadas à insônia pela, pela ânsia de comprar e pela angústia de pagar.” (GALEANO, 2007, p. 259). Sendo assim, aqueles que não podem adquirir os bens que a mídia mostra ser “imprescindíveis” acabam tendo que apelar para outros meios de aquisição, que não aquele “laboral”. Por causa disso, pagam um preço maior do que o valor do objeto furtado, e maior que o bolso pode pagar. Isso a mídia não divulga e a polícia não fala.
A morte Maycon Viegas nos faz refletir quanto vale a nossa vida. A bem da verdade, cada um tem seu preço. Se não tem um preço (monetário), tem pelo menos um valor (podendo este ser sentimental, afetivo, psicológico etc). Fato é que no fim das contas, somos rotulados e sobre os nossos rótulos recaem, conseqüentemente, o nosso valor. Assim, o valor daquele estigmatizado pela sociedade como criminoso, como não humano, era de apenas R$ 500,00 reais; morto por seus próprios “colegas” de pobreza, que “às vezes matam, por encomenda, outros meninos tão mortos de fome quanto eles. Pobres contra pobres, como de costume: a pobreza é um cobertor muito curto e cada qual puxa para um lado.” (GALEANO, 2007, p. 91).
Como diria Humberto Gessinger: “o preço que se paga, às vezes é alto demais.”; principalmente quando não se tem dinheiro para pagar.

Alanna Sousa

quinta-feira, 12 de março de 2009

"Quando Nietzsche chorou"


INDICAÇÃO:


Pra quem tá afim de ler algo bem distráido, segue aí a dica: "Quando Nietzsche chorou" do autor, psicoterapeuta e prof. de Psicotarapia Irvin D. Yalom,

o livro é uma mistura de realidade e ficção. Romance que fala sobre um médico renomado de Veneza que é incubido da missão de "salvar a vida" de quem se tornou, cem ano depois, um dos maiores filósofos que o mundo já conheceu: Friederich Nietzsche.
Após algumas conversas (hoje denominadas de sessões psicoterapeuticas ou psiquiatricas), Dr. Breuer vê o seu feitiço (de persuadir Nietzsche a se abrir), se virar contra o feitiçeiro, e é ele, o médico, quem acaba percebendo a necessidade que tinha de se abrir, de "limpar a chaminé" e descobrir que precisava tanto de ajudar quanto de ser ajudado.

O livro nos faz refletir sobre quem somos, o que somos e por que somos; numa mistura de religião, ceticismo e psicologia. Contém passagens reais de cartas escritas e recebidas por Nietzsche durante sua vida. Faz também menção da carreira de Freud, que foi amigo do personagem de Breuer, como psiquiatra e "desvendador de sonhos".

Vale a pena ler e refletir.


;)


"torna-te quem tu és"



Alanna Sousa

domingo, 8 de março de 2009

Fórum Social Mundial (por Augusto Boal)

A mídia costuma publicar só o que é espetacular, sensacional, mesmoque tenha que esconder a verdade. Hoje, fala-se mais da cor da pele deBarrack Obama do que do seu projeto político, como ontem falou-se mais dosseios da Carla Bruni do que das idéias direitistas do seu marido Sarkosy.A mídia tem dono, e reflete as opiniões do seu proprietário: o FórumSocial Mundial não tem dono, e deve refletir as nossas.Foro, Fórum, significa etimologicamente a praça pública, onde sepode discutir livremente. Este nosso Foro é mundial e deve, portanto,discutir os assuntos do mundo.Temos que saudar o fim da era Bush e seus parceiros, mas ficaratentos à nova era que começa. Aplaudir os primeiros atos de Barrack Obama,mas analisá-los com cuidado. Aplaudir sua decisão de fechar Guantânamo, maslembrar que isso não basta: é necessário restituir Guantânamo ao seulegítimo dono, que é o povo cubano. Aplaudir a ordem de acabar com atortura, mas lamentar que os torturadores não sejam punidos por esse crimede lesa-humanidade e continuem nos seus postos de comando. Aplaudir o desejodo novo presidente em dialogar com todos os países, mas explicar que nãoqueremos, como ele promete ou ameaça, não queremos ver o seu país liderandoo mundo - essa tarefa não compete nem aos Estados Unidos nem ao Paraguai,mas sim à Organização das Nações Unidas que para isso foi criada e tantasvezes tem sido desrespeitada pelo país de Barrack Obama.O Fórum é social, e temos que falar do genocídio dos palestinos.Temos que separar, de um lado, o cruel governo de Israel e, de outro, ascentenas de milhares de judeus que com ele não concordam. Não devemoscometer a injustiça que se fez com os alemães, pensando que todos fossemnazistas, quando muitos morreram lutando contra Hitler e seus asseclas.Milhares de judeus, dentro e fora de Israel, condenam e seenvergonham do que fez e faz o seu governo, que representa tão somenteaqueles que o elegeram, mas não o judaismo. Dentro de Israel existemorganizações como a dos Combatentes Pela Paz, de Chen Allon, que condenam ainvasão e denunciam seus crimes. Tenho orgulho em dizer que, para isso, usamo Teatro do Oprimido entre outras formas de combate.No Oriente Médio já se inverteu a distribuição de papéis: se, ontem,Israel foi o pequenino David, hoje é o gigante Golias, filisteu. O novoGolias, apoiado pelos Estados Unidos, em 22 dias matou mais de 300 criançase centenas mulheres e homens, civis ou combatentes. Eu chorei vendo afotografia de um menino, um pequenino David palestino, jogando pedras contraum tanque de guerra. Se a lenda de David e Golias, ontem, foi apenas lenda,a história de Golias e David, hoje, é triste realidade: os 1.300 mortosainda estão sendo retirados dos escombros, sem as solenes pompas fúnebresdos 13 soldados israelis. O Fórum e o mundo não podem esquecer esse crimeantes mesmo que sejam enterradas suas vítimas.Nosso Fórum é pluralista, e deve se manifestar contra o colonialismoitaliano que ofende a nossa soberania, que tenta interferir nas decisões danossa Justiça, como está sendo o caso da concessão de asilo a CesareBattisti. Existe uma lei brasileira que proibe a extradição de pessoascondenadas em seus países à pena de morte ou à prisão perpétua. É este ocaso, é esta a lei! O ministro Tarso Genro apenas cumpriu a lei - a leibrasileira. O presidente Lula foi claro explicando aos italianos as sólidasbases da nossa decisão, mas parece que eles não entenderam, nem disso sãocapazes. Por quê?A Itália, que foi o berço do fascismo e deveria ser também a suasepultura, mostra agora que a ideologia colonialista ainda está viva epretende anular decisões soberanas do Brasil, invadindo o nosso Judiciário equerendo nos ensinar a diplomacia da obediência e da submissão. Temos querepudiar essa ofensa e libertar o prisioneiro!Nosso Fórum é social, e a economia também. A maioria dos países queestão em crise, ou dela se aproximam, sempre disseram não ter dinheiro paramelhorar a Educação, a Saúde, a Previdência Social. De repente, parasocorrer seguradoras, bancos e montadoras, esses governos descobriram quetinham bilhões e trilhões de dólares, euros, iens e libras. Nosso Fórum tema obrigação moral de interrogar os senhores da Davos: de onde veio essedinheiro? Quem os escondia? Quanto sobrou? Onde estão?O nosso Fórum Social também é brasileiro e é camponês: devemossaudar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, que é o maisdemocrático e bem organizado movimento de massas que o Brasil já teve, e quecompleta agora 25 de lutas pela terra, luta que continua.O Fórum Social Mundial não é daqueles que dizem *Hay Gobierno? SoyContra*, e porque assim não é, deve se alegrar em receber tantos presidentesde tantas Repúblicas sulamericanas juntos neste evento: Evo, Correa,Kirchner, Chavez, Lugo e Lula. Nunca se viu fraternidade igual. Queremosagora ver os resultados concretos dessa irmandade.Devemos, muito cordialmente, lembrar aos nossos presidentes que aPolítica não é a arte de fazer o que é possível fazer, mas sim *a arte detornar possível o que é necessário fazer!*Caminhar não é fácil! As sociedades se movem pelo confronto deforças, não pelo bom senso e justiça. Temos que avançar e, a cada avanço,avançar mais, na tentativa de humanizar a Humanidade. Não existe portoseguro neste mundo, porque todos os portos estão em alto mar e o nosso naviotem leme, não tem âncoras. Navegar é preciso, e viver ainda mais preciso é,porque navegar é viver, viver é navegar!Eu sou homem de teatro e não posso deixar de falar de Arte e Culturaquando falo de Política, porque a Política é uma Arte que a Cultura produz.Temo que, mesmo entre nós, muita gente ainda pense em arte comoadorno, e nós dizemos: não é! A Palavra não é absoluta, Som não é ruído, eas Imagens falam. São esses os três caminhos reais da Estética para oentendimento: a palavra, o som e a imagem. São também os canais de dominaçãopois estão os três nas mãos dos opressores, não dos oprimidos: a Palavra dosjornais, o Som das rádios, as Imagens da TV e do cinema estadunidense,dominam nossos meios de comunicação e invadem nossos cérebros com seupensamente único, seus projetos imperiais e suas mercadorias.Acabou-se o tempo da inocência... o tempo da contemplação já não émais. Temos que agir!Palavra, imagem e som, que hoje são canais de opressão, devem serconquistados pelos oprimidos como formas de libertação. Não basta consumirCultura: é necessário produzi-la. Não basta gozar arte: necessário é serartista! Não basta produzir idéias: necessário é transformá-las em atossociais, concretos e continuados.A Estética é um instrumento de libertação.Eu felicito o nosso Ministério da Cultura pela criação de mais demil Pontos de Cultura no Brasil inteiro, onde o povo tem acesso não só àCultura alheia, mas aos meios de produzir sua própria Cultura semservilismos, sua Arte sem modismos, porque entendemos que Arte e Cultura sãoformas de combate tão importantes como a ocupação de terras improdutivas e aorganização política solidária.Sonho com o dia em que no Brasil inteiro, e no inteiro mundo, haveráem cada cidade, em cada povoado ou vilarejo, um Ponto de Cultura onde acidadania possa criar e se expressar pela arte, afim de compreender melhor arealidade que deve transformar. Nesse dia, finalmente, terá nascido aDemocracia que, hoje, só existe em Fóruns como este!Ser cidadão, meus companheiros, não é viver em sociedade: étransformar a sociedade em que se vive!Com a cabeça nas alturas, os pés no chão, e mãos à obra!Muito obrigado."

Augusto Boal

sexta-feira, 6 de março de 2009

BBB: A "Baixaria Brega do Brasil", por Miguel Reale Júnior.


Para pensar e refletir...


Programas como Big Brother indicam a completa perda do pudor, ausência de noção do que cabe permanecer entre quatro paredes. Desfazer-se a diferença entre o que deve ser exibido e o que deve ser ocultado. Assim, expõe-se ao grande público a realidade íntima das pessoas por meios virtuais, com absoluto desvelamento das zonas de exclusividade. A privacidade passa a ser vivida no espaço público.
O Big Brother Brasil, a Baixaria Brega do Brasil, faz de todos os telespectadores voyeurs de cenas protagonizadas na realidade de uma casa ocupada por pessoas que expõem publicamente suas zonas de vida mais íntima, em busca de dinheiro e sucesso. Tentei acompanhar o programa. Suportei apenas dez minutos: o suficiente para notar que estes violadores da própria privacidade falam em péssimo português obviedades com pretenso ar pascaliano, com jeito ansioso de serem engraçadamente profundos.
Mas o público concede elevadas audiências de 35 pontos e aciona, mediante pagamento da ligação, 18 milhões de telefonemas para participar do chamado "paredão", quando um dos protagonistas há de ser eliminado. Por sites da internet se pode saber do dia-a-dia desse reino do despudor e do mau gosto. As moças ensinam a dança do bumbum para cima. As festas abrem espaço para a sacanagem geral. Uma das moças no baile funk bebe sem parar. Embriagada, levanta a blusa, a mostrar os seios. Depois, no banheiro, se põe a fazer depilação. Uma das participantes acorda com sangue nos lençóis, a revelar ter tido menstruação durante a noite. Outra convivente resiste a uma conquista, mas depois de assediada cede ao cerco com cinematográfico beijo no insistente conquistador que em seguida ridiculamente chora por ter traído a namorada à vista de todo o Brasil. A moça assediada, no entanto, diz que o beijo superou as expectativas. É possível conjunto mais significativo de vulgaridade chocante?
Instala-se o império do mau gosto. O programa gera a perda do respeito de si mesmo por parte dos protagonistas, prometendo-lhes sucesso ao custo da violação consentida da intimidade. Mas o pior: estimula o telespectador a se divertir com a baixeza e a intimidade alheia. O Big Brother explora os maus instintos ao promover o exemplo de bebedeiras, de erotismo tosco e ilimitado, de burrice continuada, num festival de elevada deselegância.
O gosto do mal e mau gosto são igualmente sinais dos tempos, caracterizados pela decomposição dos valores da pessoa humana, portadora de dignidade só realizável de fixados limites intransponíveis de respeito a si própria e ao próximo, de preservação da privacidade e de vivência da solidariedade na comunhão social. O grande desafio de hoje é de ordem ética: construir uma vida em que o outro não valha apenas por satisfazer necessidades sensíveis.
Proletários do espírito, uni-vos, para se libertarem dos grilhões da mundialização, que plastifica as consciências.

quarta-feira, 4 de março de 2009

LUTO[2]




Há muito que vinha doente. Permanecia em um eterno estado de inércia; uma espécie de coma político-social. Vivia cansada de tantas agressões sofridas desde o seu nascedouro. Não sei nem mesmo dizer se algum dia esteve saudável. Creio eu que já tenha nascido assim, doente: meio anencéfala, meio aleijada; e sempre que era oportuno, demonstrava estar cega, surda e muda. Mas aos poucos foi sobrevivendo. Entre massagens cardíacas realizadas vez ou outra (Diretas Já; Impeachment do Collor etc), a Democracia foi resistindo aos ataques e embustes políticos daqueles que lhe eram contra; adeptos do militarismo e do totalitarismo político.
Morreu no dia 04 de março de 2009, no Estado do Maranhão, a Democracia; foi morta em nome do Poder e do Orgulho. Depois de perderem duas vezes consecutivas nas urnas – a primeira vez nas eleições para governo do Estado do Maranhão de 2006, quando a candidata e filha do atual Presidente do Senado, Roseana Sarney foi vencida no 2° turno para o candidato Jackson Lago; e a segunda vez, quando nas eleições para prefeitura do Maranhão, o candidato Flávio Dino (apoiado e financiado pela família Sarney) foi derrotado, também em segundo turno, para o também candidato João Castelo – de maneira claramente democrática, o Presidente do Senado e Senador do Amapá, José Sarney, não conformado com suas derrotas, resolveu apelar para a força; e quando falo de força, refiro-me não à física, mas à política.
Representado pela coligação Maranhão: a Força do Povo (PFL, PTB, PV e PMDB), Sarney entrou com uma Ação de Expedição de Mandato, exigindo fosse o atual governador do MA, Jackson Lago (PDT) e seu vice, Luís Carlos Porto (PPS), cassados e retirados do governo, para que então pudesse assumir o segundo colocado nas eleições para governo ocorridas em 2006: sua filha, a Senadora Roseana Sarney. Dessa forma, a família Sarney estaria recuperando o orgulho perdido para a força do povo que falou mais alto e deu um basta na Oligarquia Sarney em 2006, sendo confirmada a sua vontade na última eleição para a prefeitura.
Para justificar tal pleito, foi alegado no processo que o governador Jackson Lago havia sido favorecido por um esquema de lideranças, através de convênios milionários, articulado pelo ex-governador José Reinaldo, para apoiar a campanha de Lago nas eleições que o sucediam. Alegou-se também a utilização de verba pública para a compra de votos em diversos municípios e para doações que favoreceriam à candidatura de Lago.
Quem poderia imaginar que justamente no País do Mensalão, do Bolsa Escola e do Bolsa Família, algum dia se veria um político ser cassado e destituído de seu cargo sob tais argumentos? Que atire a primeira pedra aquele que nunca se utilizou de meios ilícitos para tentar se eleger. Além do mais, como é possível julgar e condenar um governador sob tais provas, se o próprio Presidente da República tem agido mesma maneira com a atual Ministra-Chefe da Casa Civil e pré-candidata à Presidência da Repúlica, Dilma Rousseff (PT); gastando dinheiro do povo para lançar (ainda que não oficialmente) a candidatura de sua possível sucessora?
Confesso que foi uma decepção, pois que em se tratando das arte-manhas de Sarney, esperava-se um golpe menos baixo. Por que se utilizar da força política? Por que não apelar pro povo, aquele que tantas vezes o elegeu e pôs o nome de sua família no Poder? Não é suficiente sabotar todas as propostas elaboradas pelo Jackson ao chegarem no Senado? Decepção ainda maior foi ter que ouvir o ex-ministro Sepúlveda Pertence declarar o governador como sendo um “médico ingênuo, remascente do mandonismo”, deixando bem claro a sua preferência política por aqueles que se utilizam de oligarquias, clãs e totalitarismo, mandando em tudo e em todos, para conseguir aquilo que se quer.
Também decepcionante foi o voto do Ministro Eros Grau, que talvez chegue a ser o mais intelectual daqueles que se encontram no Supremo. É nessas horas que eu me orgulharia de ser “hermana”, por ter como Presidente do Supremo Argentino, o ilustre Zaffaroni. Para encerrar, e assassinar de vez a nossa Democracia, o Ministro Carlos Ayres Britto ao justificar seu voto à favor da cassação, citou o brocardo: “Para os amigos, os favores. Para os inimigos, os rigores da lei.” É, talvez isso explique o porque da família Sarney estar atuando no pólo ativo desta ação.
Mataram a nossa Democracia. O povo brasileiro, juntamente com o maranhense - aquele que lutou incessantemente nas eleições para derrotar uma oligarquia que perdurou quarentas anos-, está de luto. Todavia, a luta não acabou. Hoje nossa Democracia encontra-se morta, mas pode ser que amanhã, à exemplo de Cristo, ela possa ressuscitar.


Alanna Yara Sousa