domingo, 5 de outubro de 2008

“A Militarização da Violência e a Glamorização (in)consciente dos arts. 286 e 287 do Código Penal”

"Aviso aos delinqüentes que se iniciam na profissão: não se recomenda assassinar com timidez. O crime compensa, mas só compensa quando praticado em grande escala, como nos negócios. Não estão presos por homicídio os altos chefes militares que deram a ordem de matar tanta gente na América Latina, embora suas folhas de serviço deixem rubro de vergonha qualquer bandido e vesgo de assombro qualquer criminologista" (GALEANO, 2007, p. 207)

Durante muito tempo o filme “Tropa de Elite” foi o centro de muitos debates, até mesmo debates de botecos aos sábados. O filme foi calorosamente aplaudido e elogiado pela crítica brasileira (em especial a revista VEJA) e o capitão Nascimento foi então eleito como o grande herói do Brasil pela sua coragem e “braveza” na guerra contra o tráfico no Rio de Janeiro. Lembro-me muito bem que no auge do filme a Veja publicou uma matéria que rendeu a capa da revista e que tinha na manchete alo do tipo: “O filme tropa de elite é muito bom, pois mostra que policial é policial e que traficante é traficante”. Nossa, que conclusão hein? Alguém mais conseguiu chegar à outra conclusão diferente dessa? ¬¬
Pois bem, fato é que mesmo com toda a violência Implícita demonstrada no filme, este, ainda assim, foi o grande sucesso nacional da época. Não ter assistido ao filme era o mesmo que não ter RG. Afinal de contas, ninguém poderia perder tal espetáculo, não é mesmo? A pergunta é: os fins justificam os meios? Para o BOPE com certeza que sim.
Para quem, por algum motivo, não se rendeu às críticas rendidas ao filme e deixou de vê-lo, Tropa de Elite, de fato, mostra que policial é policial e que traficante é traficante. Ou seja, que policial (em especial o Militar) é corrupto e violento, bem como traficante só existe porque tem quem o financie, e que apesar de fazer esse “mal” à sociedade, nada se compara ao mal que a sociedade o faz quando o permite viver em barracos desabando uns por cima dos outros por falta de oportunidade para subir na vida e ter sua casa própria, livre das desigualdades sócio-raciais tão comuns no Brasil. Para o BOPE traficante é o monstro que aterroriza a metrópole e acaba com a paz de seus “cidadãos” que se acham em dia com o mundo porque votam de dois em dois anos. Para o BOPE tanto faz se o traficante é pai de família que vende droga porque o tráfico foi o único que lhe abriu as portas para uma vida menos indigna do que a sociedade lá fora, em seus bairros nobres, lhe poderia alguma vez permitir. Tanto faz para o BOPE se é o tráfico a única fonte de subsídio para milhares de famílias do RJ e do resto do mundo; se é ela que traz água potável e energia para as favelas e que traz solidariedade para seus moradores. O grande lance é subir o morro no camburão da caveira, aterrorizando tudo e a todos com suas frases de medo e seus tiros de fuzil, cuja as balas custam mais caro que cestas básicas para as famílias que nada tem a ver com a história, a não ser o fato de nascer tão azarados quanto aqueles que optaram pela vida do tráfico.
Toda essa violência mostrada no filme foi motivo de grandes aplausos e críticas afirmativas à grande atuação do capitão Nascimento nesse embate civil. Controversamente há alguns meses atrás foi manchete do Jornal Nacional a reportagem de alguns policiais MILITARES que pegaram o corpo de uns garotos de uma favela e deram para traficantes da favela rival os exterminarem da maneira mais horrenda possível. Poderia alguém me explicar de onde veio tanto espanto de uma hora pra outra? Ou vocês vão me dizer que não sabiam que é isso que a polícia costuma fazer quando não quer sujar as suas mãos com sangue de crianças alvos do tráfico? Não? Mas como? Será que o Tropa de Elite que as pessoas tanto elogiaram no cinema não os mostrou a parte em que o coronel de um batalhão da PM manda retirar corpos de um local para transferir para outro e virar ESTATÍSTICAS? Que pena hein?!?
Confesso que fiquei surpresa com tanto espanto, afinal de contas, isso seria uma grande controvérsia. Além do mais, o que mais me espantou de fato foi esse espanto todo por causa de uma denúncia como essas a nível de Jornal Nacional quando na verdade, o jornalista Caco Barcellos (aquele que apresenta o “Profissão Repóter todas as terças depois de “Toma Lá, dá Cá”) fez essa denúncia há mais de dez anos atrás – de forma maravilhosamente bem estruturada e fundamentada, diga-se de passagem -, ao lançar o livro “ROTA 66 – A história da polícia que mata)[1]. Ah ta! Me desculpem, lembrei que livros desta estirpe não viram roteiro de filme nacional. Afinal de contas mostrar o outro lado da história poderia ser um grande risco: ou não renderia tanto lucro, ou renderia até mais e a polícia acabaria perdendo o seu título de heroína e de super-protetora da sociedade. Mas e quanto ao livro? Será que ninguém nunca leu? Bem, considerando que grande parte da população nacional é analfabeta e que livros custam os olhos da cara, não é de se estranhar que as pessoas nunca tenham ouvido falar nele, o que é uma pena.
Mas quantas pessoas leram ao livro Elite da Tropa (que rendeu ao José Padilha o roteiro do filme Tropa de Elite)? Talvez nem tantas assim, mas com certeza se ouviu falar dele, pelo menos depois do filme. Para quem não leu o livro, mas assistiu ao filme, aí vai um conselho: se você odiou o filme porque, assim como eu, acha que tudo aquilo não passou de um show midiático que a polícia utilizou para alienar as pessoas e tentar legitimar suas ações corruptas, violentas e desnecessárias, o livro é bem pior. Multiplica-se os palavrões e a apologia ao crime; “era hora de colocar em prática o que aprendemos no curso de operações especiais: ‘o máximo de violência, morte e confusão, na retaguarda profunda do inimigo’” (BATISTA; PIMENTEL; SOARES, 2006, p. 54). Mas se você adorou ao filme e acha que a ação do BOPE é a correta; bem (meus pêsames), faça deste livro a sua Bíblia.
Agora, falando em apologia ao crime, uma coisa bem engraçada me ocorreu na cabeça nesse semestre. Como já disse em meu perfil, sou estudante de Direito e atualmente estou cursando o 5° período do mesmo. Pois bem, ao tempo do filme e quando tive acesso às leituras que aqui citei, eu não tinha conhecimento que o nosso Código Penal contêm dois artigos que criminalizam tanto a apologia ao crime e ao criminoso como a incitação ao crime. Vou transcrevê-los aqui:
*Art. 286. Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena – detenção, de três a seis meses, ou multa.
*Art. 287. Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena – detenção, de três a seis meses, ou multa.
Explicando: é crime um traficante (preto, pobre e semi-analfabeto) afirmar que o mundo do tráfico é o certo, pois é o que lhe permite ter uma vida menos indigna. É crime elogiar a solidariedade das facções criminosas, assim como é crime idolatrar o Marcinho VP pelas benfeitorias que ele, juntamente com seus irmãos do crime, ajudaram a construir no Morro Dona Marta (BARCELLOS, 2007); mas não é crime publicar um livro ou produzir um filme como o Elite da Tropa e o Tropa de Elite que fazem apologia e incitação ao crime EXPLICITAMENTE, assim como também não é crime um delegado (deduz-se que instruído pois que tem que ser graduado em Direito) dizer publicamente que “bandido bom é bandido morto e enterrado em pé para não ocupar espaço”. Mas afinal, a lei não é igual para todos? Bem, como diria Geoge Orwell, “alguns são mais iguais que os outros”.
"Somos todos iguais perante a lei. Perante que lei? Perante a lei divina? Perante a lei terrena, a igualdade se desiguala o tempo todo e em todas as partes, porque o poder tem o costume de sentar-se num dos pratos da balança". (GALLEANO, 2007, p. 207).


Alanna Sousa


FONTES:

*BARCELLOS, Caco. Abusado. O dono do Morro Dona da Marta. Ed.18. Rio de Janeiro: 2007.
*______________. ROTA66. A história da polícia que mata. Ed.8. Rio de Janeiro: 2006.
*BATISTA, André; PIMENTEL, Rodrigo; SOARES, Luiz Eduardo. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
*GALEANO, Eduardo. De Pernas Pro Ar. A escola do mundo ao avesso. 9 ed. Porto Alegre: L&PM, 2007.
*ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

[1][1][1] Para quem não sabe, o ROTA 66 é o equivalente ao BOPE, só que no estado de São Paulo e deveras mais violento e injusto.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

“O Sistema Penal, a Laranja Mecânica e a Perda da Identidade”



“Há cento e trinta anos, depois de visitar o país das maravilhas, Alice entrou num espelho para descobri o mundo ao avesso. Se Alice renascesse em nossos dias, não precisaria atravessar nenhum espelho: bastaria que chegasse à janela” (GALEANO, 2007, p.2).
Mais uma vez eu fiquei um tempão sem postar por aqui. Dessa vez nem tanto pela falta de inspiração quanto pela falta de tempo mesmo. O semestre começou com tudo e eu, com a minha mania de querer “abarcar o mundo com as pernas” (que apesar de grossas, não são grandes o suficiente), estou me envolvendo com outras coisas e por conseguinte, estou mais sem tempo do que nunca. Enfim, cá estou eu novamente.
Pegando o ensejo do último post e, aproveitando a inspiração que me foi deixada pelos livros que tenho lido, hoje vou tentar fazer uma relação, com toda a devida vennia entre o Sistema Penal atual, o livro Laranja Mecânica e um documentário policial caseiro que tive acesso na semana passada (salvo engano, o nome é “dia-a-dia de um policial”, como eu o emprestei, não posso confirmar agora, mas dou a informação certa no próximo post).
Bem, pra quem não sabe, o livro “Laranja Mecânica” do autor Anthony Burgess é uma história de ficção que retrata como será o problema da violência no futuro. O livro foi escrito há cerca de 40 anos atrás com a idéia de retratar como será o mundo em um futuro bem distante, onde a tecnologia já é ultra avançada e junto com ela, a violência urbana. O que posso dizer é que, apesar da nossa tecnologia não estar, ainda, tão avançada quanto é descrita no livro, a violência com certeza já evoluiu bastante de lá pra cá. A diferença entre Alex e seus “druguis” pros marginalizados de hoje, é que, sem sombra de dúvidas, os “delinquentes” de hoje não têm o costume de ouvir Beethoven, não são de classe média e muito menos vestem as roupas da moda. Um dia chegarão nosso “delinqüentes” a esse nível de cultura e modernização? Creio que não. Mas caso alguns deles tenham a sorte de chegar, com certeza já não mais serão estereotipados como tais. “Os presos são pobres, como é natural, porque só os pobres vão para a cadeia em países onde ninguém é preso quando vem abaixo uma ponte recém inaugurada, quando leva à bancarrota um banco depenado ou quando desmorona um edifício sem alicerces” (GALEANO, 2007, p. 95).
Fato é que, apesar das diferenças de classe, sociais, culturais e econômicas (diferenças essências para o seu etiquetamento como marginal) entre os atores do livro de ficção e os atores do livro da vida real, todo o resto lhes é comum. O prazer pela violência, a ânsia pela dor alheia e a revolta por se viver em um mundo que de certa forma não lhe pertence, ou que não se encaixa em seu perfil. Nos dias de hoje ultrapassamos a barreira da criminalidade e já alcançamos o topo da violência. Quando falo de violência, refiro-me não somente à física, mas também e, principalmente, a psíquica. Os ditos “marginais” de hoje já não se contentam em furtar, precisam se utilizar da violência e do medo, pra ganhar o seu espaço. A mídia, por sua vez, precisa mostrar nos mostrar esse medo para que possa nos alienar a ponto de nos fazer acreditar que o problema destes “marginais” é um problema patológico – como ensinou Lombroso há mais de cem anos atrás – e que a sua única solução é “isolá-los” de nós, seres humanos “normais” e não cometedores de crimes, espremendo-os entre tantos outros iguais e fazendo da prisão uma verdadeira escola do crime.
O sistema penal de hoje pouco se diferencia da técnica Ludovica de “ressocialização”[1] a qual participou Alex quando do seu “tratamento” na prisão de “Laranja Mecânica”. Atualmente - eu volto a dizer - a única diferença entre os marginais do livro e os marginais da atualidade é a falta de tecnologia que nós ainda não alcançamos. No livro o autor retrata toda uma cabine equipada de parafernalhas utilizadas para converter o cérebro humano em um cérebro animal (irracional). No sistema penal a falta de parafernalhas não transforma somente o cérebro humano em animal, mas sim todo o seu ser. O direito penal insiste na idéia de que presídios são as soluções para a redução da criminalidade, impondo aos seus hóspedes, um método de “ressocializaçao” (que como bem prevê a Lei de Execução Penal é um direito do preso e não um DEVER, como o Estado faz parecer ser) que nada tem a ver com reeducação ou qualquer outra palavra que possa vir a ser sinônimo desta. É incrível como todo esse mecanismo (tanto do livro quanto da vida real) é projetado pra fazer com que essas pessoas percam a sua identidade. A maldade ou bondade da pessoa deixa de ser uma escolha (a)moral pra ser ou um dever (na ficção) ou uma falta de opção (na realidade). “A questão é se uma técnica dessas pode realmente tornar um homem bom. A bondade vem de dentro. Bondade é algo que se escolhe. Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser um homem” (BURGESS, 2004, p. 85).
Na sociedade em que se vive o homem delinqüente deixa de ser homem pois, o estigma que carrega desde o seu nascedouro - muita das vezes por ser preto e pobre -, não lhe deixa muita opção entre ser bom ou mau. O sistema punitivo quando o captura, retira-lhe o pouco de identidade que lhe foi conquistada seja por uma vida honesta, seja por uma vida marginal. Não bastasse o mundo aqui fora insistir em lhe dizer que ele deve ser assim ou assado, mesmo não lhe dando nenhuma oportunidade pra isso, dentro das “prisões da miséria” o preso é obrigado a melhorar para voltar à uma sociedade que desde sempre o discriminou e lhe fez mal.
Sempre se debate nos colóquios de Direito Penal em como fazer, quais atitudes tomar para fazer do presídio um ambiente propício à “ressocializaçao” deste ser, de maneira que ele possa voltar a integrar a mesma sociedade que lhe pôs lá dentro. O que não se questiona é se esse preso quer de fato voltar para onde todos sempre lhe olharam torto, sempre lhe negaram emprego e caçoaram de sua falta de instrução; ainda mais agora que está tatuado eternamente - física e psicologicamente - pelas marcas da prisão. Ao chegar na penitenciária o preso perde o nome e passa a ser identificado por um número. Ali ele perde todos os direitos que sempre teve no papel mas que nunca se transpôs à sua realidade, quais sejam a moradia, a educação, a alimentação, ao tratamento igual. Ali ele perde também a sua dignidade e a sua identidade como um ser racional, pouco se diferenciando de um cachorro sarnento dos becos de ruas escuras. Quando do seu flagrante, mesmo sendo menor de idade, a mídia insiste em estampar seu rosto em todos as páginas e telas de jornais, o força a falar até mesmo coisas que nem mesmo sabe o significado e o transforma, devido ao furto cometido pelo mal da fome, em um monstro, um verme, e que deve ser punido e "ratado da mesma forma que aquele que estuprou com prazer uma criança de 5 anos de idade. Mas essa mesma mídia, por meio de filmes, jornais e documentários, é incapaz de compará-lo com aquele criminoso que fez dele esse monstro tão temível; aquele que desvia o dinheiro dos cofres públicos destinados à educação ou saúde e todos os outros direitos fundamentais previstos no art. 5° da Constituição Federal. Ao sair da prisão, recupera seu nome, mas não mais a identidade. Já não é mais o João, o Marcelo ou o Fernando, mas sim o “ex-presidiário” que matou, roubou ou se drogou; mesmo que por auto-defesa, necessidade ou pra enganar a fome. A partir dali a sua cruz fica mais pesada que a dos demais que deixou aqui, no lado de fora. Agora mesmo é que as oportunidades que nunca lhe foram oferecidas, desaparecerão. No fim das contas: “condena-se o criminoso, não a máquina que o fabrica, como se condena o viciado e não o modo de vida que cria a necessidade do consolo químico ou sua ilusão de fuga... A lei é como uma teia de aranha, feita para aprisionar moscas e outros insetos pequeninos e não os bichos grandes, como concluiu Daniel Drew. E já faz um século que José Hernández, o poeta, comparou a lei com uma faca, que jamais fere quem a maneja. Os discursos oficiais, no entanto, invocam a lei como se ela valesse para todos e não só para os infelizes que não podem evitá-la. Os delinqüentes pobres são os vilões do filme: os delinqüentes ricos escrevem o roteiro e dirigem os atores” (GALEANO, 2007, p. 96).

Alanna Sousa
Fontes:
BURGESS, Anthony. Laranja Mecânica. São Paulo: Aleph, 2004.
GALEANO, Eduardo. De Pernas Pro Ar. A escola do mundo ao avesso. 9 ed. Porto Alegre: L&PM, 2007.
WACQUANT, Loiic. As prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
Documentário (como não tenho as informações aqui, coloco no próximo post).

[1] Essa palavra é tão absurda do ponto de vista sociológico, que nem mesmo o próprio dicionário que vem acoplado ao Word a reconhece. Motivo pelo qual vem acompanhada das aspas. Sobre o meu repúdio a esta palavra, ler post do dia 31 de março.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Código da Vida

Depois de algum tempo sem postar, por pura falta de tempo e de inspiração, parece-me que pelo menos a inspiração voltou e com tudo, cá estou eu novamente! Eu sempre fui assim, meio que de lua. Tem época que podem me colocar num liquidificador e que pouca coisa sairá (e que preste), mas tem época também que as idéias surgem como a água da chuva que está caindo agora, enquanto eu escrevo aqui: forte e em grande quantidade.
Fato é que da semana passada pra cá vieram-me várias idéias e pensamentos, inspirados é claro nos livros, filmes e debates com que tive contato neste mesmo intevalo de tempo. Meu único medo é que eu esqueça metade das coisas que eu tenho pensado, antes mesmo de externá-las.
Começarei então pelo "Código da Vida", do Saulo Ramos. Apesar de ter começado a lê-lo já a algum tempo (e eu até que estava em um ritmo bom), eu tive que deixá-lo de lado por uns dois meses. Sabe como é, a gente tem que se dividir entre as leituras obrigacionais, as não obrigacionais mas que de certa forma nos cobra um pouco mais de atenção e paciência, e aquelas que se faz despreocupado, sem apego algum, apenas por hobby e pra esfriar a cabeça. Pois bem, o livro do Saulo me ocupou a 3° opção, apesar de que algumas vezes me deu mais dor de cabeça do que relaxamento. Mas também, acho que é quase impossível se ler sobre política e não ter certas dores de cabeça derivada de indignação. Fato é que finalmente, no sábado que se passou, eu o terminei. Que livro!
Engraçado que este livro me foi recomendado pelo pai de uma grande amiga minha, enquanto passávamos férias em São Paulo. Ele estava lendo e depois de algumas conversas ele percebeu que eu gostava de ler e me indicou a obra. Eu agradeci, claro, e falei que iria ler, mais por educação do que por vontade mesmo. Não que eu nao confiasse no gosto dele, mas é que à época dos fatos, eu estava entertida com o livro do Percival de Souza - "O sindicato do crime. PCC e outras facções" - livro esse que por sinal me tirou algumas noites de sono das minhas tão desejadas férias. Talvez pelo fato de eu estar passando férias em São Paulo e o PCC ser de lá. Quem sabe!.
Pois bem, como eu não tinha tempo para lê-lo, indiquei a uma amiga. Ela o comprou imediatamente e começou a ler, disse que estava gostando muito (não sei o quanto, porque até a última vez em que nos falamos, ela ainda tava estancada lá pelas cento e algumas páginas). Sendo assim, depois de terminado o livro do Percival, li mais alguns outros que já estavam na fila, e com pressa (como por exemplo o Rota 66 do Caco Barcelos, que me fez andar SP inteira atrás até me convencer de que estava de fato esgotado), até que um dia resolvi fazer minhas agradáveis compras pela net e ele estava em promoção. Que maravilha, não tinha mais desculpas, pelo menos não para não comprá-lo. Comprei. Li mais alguns na frente dele, e quando ele já não aguentava mais me ver trocá-lo por outro eu resovi escolhê-lo dentre uma pilha de outros que ainda quero ler. Grande escolha a minha. O livro já começa bem: empolgante e chamativo. Estava fazendo jus as recomendações do meu amigo juiz, pai de minha amiga que já não sabe mais, muito bem, o que quer da vida. Pois bem, li - tive que parar por um tempo -, até que acabei no sábado, como já falei antes.
Que bela história, dessas que nos arrancam algumas lágrimas dos olhos e um sorriso sem graça daqueles que se dá quando nos envergonhamos por estar chorando na frente dos outros (e olha que eu estava só em casa, deitada em minha cama. As únicas pessoas que poderiam presenciar tal cena, no mínimo engraçada, seriam os moradores do prédio ao lado, e que tem a cozinha quase que de frente pro meu quarto).
O livro é uma mistura de romance, com política, direito e principalmente MORAL! Que grande moral tem esse autor (e ética também, que preferiu trocar o nome dos personagens principais, para preservar a imagem de seus clientes, haja vista que o autor era advogado) e os personagens por ele narrados. Ao redor do caso principal, o do Sr. Olavo Brás, Saulo faz uma espécie de retrospectiva dos tempos políticos em que vivemos(ele, que foi influente jurista no Brasil em nossa época ditatorial, principalmente). Pra se ter uma idéia da importância do cara, ele foi acessor do Jânio e praticamente "mão direita" do Sarney (se é que ele é destro). Digamos que era uma espécie de consultor da "raposa" da política brasileira. Mais do que consultor, é amigo também, a ponto de chamar o ex-presidente de Zé.
Saulo foi, indubtavelmente, importante para história do Direito do Brasil. Engraçado como se faz "fama" no Brasil; eu nunca tinha ouvido falar dele, mesmo cursando direito e com todo o currículo que ele construiu. Mas alguém aí não conhece o Roberto Jefferson e amigos??? Aqui no Brasil é assim, só se faz história e é lembrado, ou depois de morto ou sendo muito escroto pro Pais. Talvez por isso eu nunca tenha ouvido falar nele. Que me perdoe o Saulo.
O livro me inspirou muito, me mostrou um pouco de luz no fim do túnel que cada dia que passa escurece mais. No país do futebol e do mensalão, dá gosto saber que ainda tem gente que nem sempre como pizza no fim da festa; se é que deu pra entender. E isso só confirmou o que eu já achava: Direito é dom! Claro que há aqueles que simpatizam com a matéria e tals, e aqueles outros (milhões) que acham que o direito é uma Ciência - e exata ou então, que é mera utopia - e que farão deles pessoas ricas e poderosas. Basta ir pra faculdade, "aprender a ler códigos", e fazer os cálculos: se A, mata B = 30 anos de prisão! É mais ou menos assim que o Direito tem sido estudado ultimamente. As "ias" (filosofia, sociologia, criminologia, psicologia) têm sido deixadas para trás, ou então não têm sido estudadas com a importância que devem. O problema é que as pessoas não percebem que o Direito só é considerado uma ciência humana por causa das tais "ias", se não, pouco se diferenciaria da matemática, física, engenharia e etc. Por isso que eu digo que pra fazer Direito, direito; tem que ter dom, e muita pesistência. É preciso se enxergar muito além do que mostra um VadeMecum, é preciso interpretar muito além do que falam as doutrinas e jurisprudências; afinal de contas, elas não são as donas da verdade. A única verdade que podemos seguir sem medo no ramo do Direito, é a do coração (desde que não seja o mesmo coração que, influenciado pelo show midiático do dia-a-dia, roga pela pena de morte, pela redução da maioridade penal ou mesmo elege o Capitão Nascimento como o novo herói do Brasil), mas o coração dos heróis Shakesperianos - aqueles que tiverem de fazer o que tinha de ser feito, encarando as consequências. Porque em algumas situações, razão alguma nos levará a decidir um caso tão ardiloso tão bem como fez o atual Ministro César Peluso na história do livro, época em que ele ainda era Juiz. E isso me motiva, porque sei que apesar de poucos, assim como o Peluso, com certeza há outros que atuam com amor na profissão e não por ganância social e econômica. De fato, o final do livro é emocionante, em todos os sentidos. Vale a pena ler.
Falando em pessoas que atuam bem porque atuam com amor à profissão, tenho que aproveitar pra dizer que grande parte da minha inspiração também vêm do meu trabalho, das minhas experiencias do dia-a-dia, fora da sala da teoria "utópica" de todos os santos dias. É engraçado como os adultos de hoje gostam de jogar a responsabilidade para nós jovens, os adultos de amanha. "Vocês são o futuro da nação", é o que eles dizem! O que eles esquecem é que todo mundo, quando faz algo, se espelha em alguém. Portanto, nós, jovens, "futuro da nação", de certa forma temos que nos espelhar neles. E que exemplos são esses que eles têm nos dado? Sendo assim, eu tenho que me ajoelhar todos os dias pra agradecer à Deus pelos exemplos que Ele têm colocado no meu caminho. Pessoas que não precisam ser identificadas, mas que quero que saibam, de alguma forma, que têm sido minha inspiração e minha luz no fim do túnel nos dias mas conturbados da minha vida de futura jurista. Pessoas honestas, que tem o dom do Direito, hérois Shakesperianos e acima de tudo: humanos. Que conseguem ver além do que o poder pode lhes proporcionar e que não mudam seu caráter por causa disso. Pessoas que conseguem estender a mao ao próximo,mesmo quando se encontram no topo, e que não desanimam com a injustiça e a falta de reconhecimento humano, pelo que fazem, pois acreditam na justiça, reconhecimento e recompensa divina. Portanto, àqueles que tem me dado força, oportunidade e grandes exemplos, meus sinceros agradecimentos: Juizes, Advogados, Delegados, Docentes, Doutrinadores, Amigos, colegas de estudo e trabalho, e os políticos, é claro, que me dão constatemente exemplos... do que não deve ser seguido.
Àqueles que estão estudando por um direito mais justo, por um Direito humano e não exato deixo-lhes a lição de Zaffaroni: façam das utopias, idéias concretas de um futuro próximo e jamais confundam o pessimismo que nos é deixado de herança, com o desânimo consequente de uma guerra que nunca acaba.


PS: Quanto ao livro, uma coisa só me desagradou: O Saulo que me desculpe, mas ele puxa muito o saco do Sarney, e que a história do golpe dado na Roseana, não me convenceu (mas parece que, ao fim da obra, ela já não estava tão satisfeito com as atitudes do Sarney).

Alanna Sousa

domingo, 4 de maio de 2008

Quando a saudade fala mais alto...

"Quando a saudade fala mais alto,
é quando eu mais gostaria de gritar.
Quando a saudade fala mais alto,
é que meu coração não pára no lugar.
Quando a saudade fala mais alto,
é que a dor aperta no peito.
Quando a saudade fala mais alto,
é que eu descubro que não tem mais jeito.
Mas como nem tudo é solidão, a saudade serve pra manter-nos vivos, atentos a todo instante em que possamos estar perto, mesmo se estando longe, onde a dor de não estar perto se regozija com as lembranças de quem um dia já passou por nossas vidas e deixou marcas.
Tenho saudades dos tempos de criança em que ainda não conhecia o significado da palavra "responsabilidade"; época em que só se aprendia o sentido das palavras por meio de dicionários.
Tenho saudades de quando acreditava em contos de fadas, mesmo nunca acreditando.
Quando a saudade fala mais alto,
é que finalmente se percebe a dor da loucura de estar amando".



PS: quem diria que um plantão na REFESA algum dia me faria escrever assim.

Alanna Sousa

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Direito

"Falar sobre o Direito é tão complexo quanto falar de Deus. Há aqueles que acreditam e juram que o vêem, há aqueles que ou nunca acreditaram ou simplesmente deixaram de acreditar; por fim, há aqueles que como eu, também não o vêem, como o fogo que brilha aos nossos olhos, mas o sentem, como o fogo de arde em nossos corações e lutam para que essa chama nunca se apague.
Este Direito é para nós tão essencial quanto o ar que respiramos. É necessário mantê-lo vivo e aceso como uma fogueira que ilumina o mais escuro dos matagais, mas é também preciso tomar cuidado para que essa chama nem se apague, nem destrua tudo que está ao seu redor, deixando para trás apenas cinzas e fumaças... sinais de que um dia existiram.

Alanna Sousa

domingo, 6 de abril de 2008

LUTO

O Brasil tem vivido tempos questionáveis. Sim, digo isso por que dizer que está bom ou ruim, é muito subjetivo; vai de cada um (mais adiante vocês entenderão o porque).
O último acontecimento que não sai das manchetes de jornais e das notícias de TV, é o homicídio bárbaro da garota Isabella. E digo homicídios, por que nunca acreditei em Papai Noel, e não vai ser agora que eu vou acreditar. Tenho até teoria formada para o caso. Queria muito ter a oportunidade de entrar em contato com os peritos que estão solucionando o caso, para dar a minha opinião. Mas quem daria bola para uma "pirralha" de 19 anos que é mera estudande de Direito, futura estudante de Psicologia, mas que já leu muito sobre coisas do tipo?
Bem, como não posso falar, ainda, a minha tese (sabe como é né?? Nos dias de hoje calúnia, injúria e difamação, é o pau que rola solto nos crimes da "High society"; se pah, daqui a pouco tem adovgado de neguinho ameaçando me processar, pelo orkut), deixarei aqui duas dicas sobre o que eu acho do caso (pra que depois que seja divulgado pela imprensa, e eu jogar a real aqui, ninguém dizer que eu só falei depois que divulgaram e que era "óbvio".
1- a gente já viu esse filme antes, mas com personagens invertidos;
2- Freud explica!!
Eu tenho certeza que os profissionais responsáveis já sacaram o que eu também já saquei. E acho que não precisa ser perito para entender o que rolou ali, naquele dia. A questão é que tem lá aquele ditado que diz: "até que se prove o contrário, ninguém é culpado"; ou seja, vai ser necessário provar, o juiz sentenciar e a coisa, ser julgada. Até lá, tudo que nos resta é a angústia de vivermos uma situação dessas (mesmo que pela solidariedade e comoção geral) e esperar que de alguma forma, a justiça seja feita.
Bom, o fato é que eu não queria me referir necessariamente à essa situação, mas sim à hipocrisia em que vivemos uma hora dessas. Sim, HIPOCRISIA.
Antes de explicar o por que de minha "acusação", tenho umas perguntas a fazer:
Qual a cidade que ocorreu o crime??
Qual o bairro??
Qual a classe econômica/social a que pertencem os familiares da pequena Isabella??
Hummm... Ok. Não precisa responder, afinal de contar, "para bom entendedor, meia palavra basta".
O que quero dizer é que milhares barbaridades como essa ocorrem todos os dias na nossa realidade atual. Experimente dar um plantão na Delegacia de Homicídios da sua cidade, e vocês entenderão o que estou falando. São vários os casos em que filhos matam pais e vice-versa. Mas somente quando o caso se refere à alguem que pertence a uma classe mais elevada da sociedade, é que passa a virar notícia de jornal, e com destaque. Não estou desmerecendo o caso. Por favor, não me entendam mal. Só estou dizendo que o nosso mundo é pequeno demais e a nossa agenda está sempre muito lotada para que nos preocupemos com os problemas do mundo, mesmo quando isso signifique olhar para o que está do nosso lado. Há quem diga que já tem problemas demais para ainda ter que se preocupar com o dos outros; mas que não perde uma fofoquinha no bar mais badalado da cidade, ao som de um pagodinho e com um chopp bem gelado. Mesmo quando do outro lado da rua, tem gente passando fome.
Fome?? Pra gente, fome só se tem na África (o Lula que o diga. Vive fazendo campanha para angariar fundos e medicamentos para mandar pra lá, no seu mais potente e tecnológico avião particular, que custou alguns milhões de dollares; enquanto que aqui no Brasil, ele faz campanha para divulgar um Bolsa Miséria (ops... acho que é Bolsa Família né??).
Temos que nos solidarizar com os africanos que morrem de AIDS e malária; mas quem liga para os cariocas que estão morrendo de dengue??
O mundo parou para ajudar os americanos a reconstruirem New Orleans (cidade de população relativamente "rica") depois de devastada por furacões. O Brasil parou por causa das enchentes ocorridas ultimamente em praticamente todo o País; não por comoção, mas por não ter pra onde ir. E o pior, grande culpa disso, é nossa, por não darmos valor ao que é nosso (a Amazônia, por exemplo) e insistirmos em provocar a fúria da mãe natureza.
Os EUA, um dos maiores países na destruição da natureza, não contentes em apenas ajudar a aumentar o aquecimento global, resolveu não assinar o protocolo de Kyoto. Pra quê mesmo?? Isso não daria tanto lucro quanto investir em um arsenal bélico e ogivas nucleares, ou mesmo mandar jovens para linha de frente em guerra civil Iraquiana (onde nunca foram convidados), e ainda com a desculpa que estão fazendo um bem para o mundo.
O Bush doou 350 milhões de dollares (depois de muito criticado por ter doado, a priori, apenas 35 milhões, enquanto que estrelas da música e cinema, desembolsavam o dobro, no mínimo) para os sobreviventes do tsunami na África; gasta 5 bilhões de dollares com o Iraque, matando inocentes, a cada 30 dias. E ainda pede ajuda para reconstruir a cidadezinha deles, por que a "pobre" economia deles, não permite reconstruí-la, sozinha.
O Brasil parou quando o menino João Hélio (curiosamente de classe média) foi também morto barbaramente, dessa vez, por traficantes. As pessoas que choraram e se emocionaram com esse caso, foram as mesmas que aplaudiram de pé o filme Tropa de Elite, e elegeram o Capitão Nascimento, como o mais novo herói do país (e olha que não é fácil se ganhar o título de herói, no páis em que vivemos, quando se tem o Pedro Bial heroizando seus pupilos no BBB). Se a violência fosse a solução para se alcançar a paz mundial, a essa altura do campeonato, Bush e Bin Laden estariam passando férias, juntos, em Dubai (um querendo pagar a conta do outro). Se duvidar, é o que eles estão fazendo; ou vocês até hoje acreditam que o 11 de setembro foi realmente um ataque terrorista, ou que o EUA não estava sabendo de nada?? (alguém sabe me dizer onde foram parar os escombros do avião que supostamente tinha o Pentágono, mas errou??).
Como se não bastasse toda essa hipocrisia que se vê na TV, eu tenho que vê gentinha andando de Ferrari, num bairro dividido entre a nata da "High society" e o mal-cheiro da miséria humana, desfilando com garotas de 14/18 anos (dependendo do dia) enquanto vende carro popular, com peças duvidosas e notas fiscais mais duvidosas ainda, pra pobre pagar em 72 vezes.
P.S: para quem não sabe, eu moro em São Luiz , MA. Estado mais pobre da federação, e onde há o maior índice de analfabetização do Páis.
Engraçado não?? É nessas horas que a gente ri, pra não chorar.
Pois bem, fica aqui a minha mensagem de solidariedade para a família da pequena Isabella, enquanto aguardo ansiosa pela justiça.
Estou de luto, sim; mas não somente por ela, mas pela humanidade em geral. Por que atingir a situação caótica que atingimos, é no mínimo lamentável.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

"O caçador de Pipas"

" - Você perguntou sobre o pecado e quero lhe dizer o que penso a este respeito...
[...]
- Pouco importa o que diga esse mulá; existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente uma variação do roubo...
[...]
- Quando você mata um homem, está roubando uma vida. Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça".
(O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini)
E olha que a gente ainda passa uns bons anos tentando decorar, interpretar e entender o código penal, quando este se resume em tão pouco...

segunda-feira, 31 de março de 2008

Ressocialização... Utopia ou dignidade?

O que tenho a dizer é: em primeiro lugar; sociologicamente falando, a palavra "ressocialização" não existe, o que me faz concordar plenamente com a Guadalupe. Isto pois, nós, seres humanos, estamos em constante socialização. E o que seria isso? Estamos constantemente nos adaptando com o que nós chamamos de sociedade. Tentamos seguir o seu ritmo, acompanhar a moda, assistir aos jornais... enfim, tentamos nos manter da melhor forma possivel, nela. Sendo assim, a partir do momento que uma pessoa tem a sua liberdade privada e passa a viver em um presídio, encarceirado, esta pessoa passa a viver em uma nova sociedade. Ali as regras são outras, a linguagem muda, os hábitos, os costumes, as pessoas etc. Portanto, volto a repetir: este termo "ressocializaçao" é errôneo e inadequado, haja vista que o homem nao retrocede (pelo menos, nao em termos gerais".
Meu segundo comentário é: levando-se em consideraçao que o este termo teria o sentido de reintegração, reeducaçao reintegraçao: eu, pelo pouco que conheço, já li, já vi e estudei sobre o nosso sistema carcerário, sinceramente creio que esta palavra nãoo passa de uma utopia. É impossivel crer que um ser humano pode ser melhor vivendo sob as condições sub-humanas em que são submetidos lá dentro. Como pode um homem, que as vezes, apenas furtou, por necessidade, fome etc; se "arrepender" do que fez, quando este se ve enjaulado em uma cela, ao redor de mais 10 outros homens que tiveram o sangue frio para cometer crimes verdadeiramente bárbaros??Os presídio passam então a ser escolas do crime, uma máquina de se fazer monstros. Pior, sei que nem todos se corrompem, ao passo que tambem sei que os que são corrompidos, nem sempre o são por prazer ou por vontade própria. Da mesma forma em que tentamos nos manter nesta sociedade aqui fora, os que se encontram lá dentro, tambem o tentam. Isso se chama NECESSIDADE. Ou se corrompe, ou morre.
Sei tambem que isto nao é uma regra geral, mas é um número considerável; e acredito que esta corrupçao que ocorre lá dentro, é justamente pq, grande parte dos detentos nao tiveram a sorte que o marcelo tem, qual seja esta, a de ter uma base familiar sólida. E eu volto mais uma vez a sociologia, que prova que os 3 grandes alicerces de um ser humano sao: a familia, a educaçao e a religiao.
Se sabe que no pais em que vivemos, educaçao só é para todos na teoria; na folha de papel de nossa constituição. Religiao nao se pode impor, vai de cada um.A família passa a ser a viga-mestre de um ser humano. E é aí que está a ponta do iceberg: aquele que nao tem uma familia equilibrada, que nao tem em quem se apoiar, vai ter forças pra lutar lá dentro? Vai ter motivos, razoes, objetivos para se manter vivo e "incorrupto" lá dentro? Creio que nao.
Por fim, o ultimo comentario que faço, é a respeito desta reinserçao do ex-presidiario nesta sociedade patriarcal e capitalista. Muito se discute a respeito de como fazer para que o ex-presidiario possa melhorar lá dentro para se tornar apto a voltar aqui pra fora. O que nao se pergunta é: será que as pessoas que estao lá dentro realmente querem voltar pra cá? Pra essa mesma sociedade que os oprime, que os prejudica, que os discrimina? Pois se já nao fosse o bastante ser, na maioria das vezes, negro e pobre; esse ser humano, depois de "liberto, passa a carregar nas costas o estigma de ex-presidiario; e esta é uma marca que tratamento algum pode tirar do corpo deste individuo...
Portanto, o que tem que se pensar não é, somente, o que fazer para que esses presidiarios se arrependam e voltem "sãs", para a nossa sociedade. O que há de se pensar é, o que fazer para evitar que alguem possa ir parar lá. A partir disto é que se pode começar a pensar em um individuo "ressocializado".
Acredito tambem, que os estudos do Direito, mais do que nunca, deveriam se juntar aos estudos da psicologia e da psicanalise humana; pois antes mesmo de julgarmos e condenarmos alguem, é preciso conhecer e entender este alguem.

P.S: Para quem não entendeu nada, entra aí: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=88728&tid=2581543995107940347&na=4
Alanna Sousa

domingo, 30 de março de 2008

Engraçado como são as coisas. Hoje parei para pensar o que quero de minha vida, do meu futuro; cheguei a conclusão que quero tudo e que nada quero, ao mesmo tempo.
Queria que o dia tivesse 25 horas, pra ver se eu dava conta de fazer tudo que me vem à cabeça. Mera utopia; nos dias de hoje, quanto mais se tem, mais se quer, e portanto, não seria diferente com o tal "tempo". Com certeza, se eu tivesse essa hora a mais no meu dia, eu, ao mesmo tempo, não a teria, por que outras coisas lhes roubaria o lugar: meus livros, , a internet, minha afilhada querida, o sono, a preguiça ou mesmo a inércia.
O fato é que tenho que me decidir, pois o tempo vai passando e as oportunidades não ficam para sempre. Uma boa notícia: parece que começarei a realizar mais um dos meus sonhos de vida; cursar psicologia no próximo semestre. Hoje toque no assunto com os meus pais: minha mãe falou logo: tu vais ficar LOUCA.
Meu pai, apesar de "concordar" com a minha mãe, nesse sentido, assim me disse: "tu és estudante profissional; enquanto eu tiver vida, trabalharei para que tu e teus irmãos fiquem loucos de estudar, comam livros. Não quero que você seja boa, quero que você seja a melhor. Não quero que tu faças teu trabalho bem feito, quero que tu faças "a" diferença. Enquanto eu puder trabalhar, se tu optares por apenas te dedicar aos estudos, pois assim, será".
A partir dessa conversa, milhares de coisas me vieram à cabeça.
Quantas pessoas não tem os pais que eu tenho, que apoiam as minhas loucuras. Há aqueles que têm pais que só apoiam materialmente, outros, moralmente; mas há também aqueles, que igualmente a mim, têm, graças a Deus, os dois; mas diferentemente de mim, não sabem dar valor a isso. E eu vejo isso nos meus próprios irmãos.
Todos eles, ou praticamente todos eles, tiveram a oportunidade de estudar que eu tive. Meu pai, como ele mesmo gosta de dizer, brincou de "jogar dinheiro fora", ao pagar as melhores faculdades, dos melhores cursos para os meus irmãos, que simplesmente não deram valor. Por quê?? Só eles, e Deus sabem.
E é nessas horas que eu começo a achar graça das pessoas e do mundo.
Cansei de ver nos noticiários que o mercado de trabalho (em especial o do direito) está saturado, que não sei quantos mil se formam bacharel neste curso, e que acabam desempregados, mas com o diploma pregado na parede.
Pois bem, eu compactuo da idéia do grande civilista Venosa, que em uma palestra que tive o prazer de assistir, disse que o Direito é um Dom. Não é pra qualquer um.
Bem, eu vou mais além; não somente a área do direito é um dom. Tudo aquilo que se faz em vida é um dom. Cada um com os seus.
Para mim, o motivo da saturação do mercado de trabalho jurídico, não é a grande quantidade de bacharéis que se formam (com ou sem qualidade) e são cuspidos na sociedade, mas sim, a incapacidade, a incompetência, a não persistência e a falta de fé de quem acredita no que faz. Isso sim explica! Por que em um ramo, em que milhões de portas encontram-se fechadas, porém destravadas, as pessoas não querem ter o trabalho de girar a maçaneta e atravessar essa porta. Para alguns, essa porta se transforma em um muro de Berlim, e isso, para mim, é um absurdo; é inaceitável. O fato é que ser bacharel em direito, nos dias de hoje, significa para a maioria, decorar códigos e vez ou outra ler uma doutrina ou jurisprudência, para no final, tentar a "sorte" na prova da OAB. Bem, para esses que entram no curso de Direito com esse pensamento, com essa intenção, tudo que eu posso dizer é que as portas não só estarão fechadas, como também trancadas e com cadeado passado.
E é incrível como as pessoas sempre querem muito, mas se contentam com pouco, por pura preguiça de sonhar.
Portanto, depois de muito refletir, cheguei a uma conclusão: reunirei todos os meus esforços para realizar o sonho de meus pais; o de ficar "LOUCA"; o de ser "A" melhor e de fazer "A" diferença, nem que para isso eu tenha que dobrar o números de livros a serem lidos, com as mesmas 24 hs que eu continuo e continuarei tendo. Cursarei a minha tão sonhada psicologia, abrirei mão de festas, de noites de sono, e infelizmente, até mesmo, da adorável companhia de meus familiares e amigos; pessoas que me dão força para seguir em frente na minha loucura.
Para tanto, tenho que agradecer à Deus não só pelos pais que tenho, e que me dão essas oportunidades, mas às pessoas que Ele tem colocado na minha vida, e que têm sido meus grandes exemplos de vida. Talvez eles nem saibam o quanto os venero, mas se um dia eles chegarem a ler isso aqui, no fundo, no fundo saberão quem são.
Portanto, àqueles que têm feito de minhas loucuras, uma realidade; meus sinceros agradecimentos.

Alanna Sousa

sábado, 29 de março de 2008

E ela já não sabia mais quem era.
Jogada, ali, entre quatro paredes, chorava lágrimas de um cão sem dono em busca de abrigo. Procurava um apoio, uma parede que fosse, ao menos para que pudesse se encostar.
De nada adiantaria. O tempo deixava marcas em seu coração dilacerado que sangrava como um feto abortado de uma mão que não lhe queria.
Mas ela não desistiu; foi em frente. E no meio do caminho se perdeu em seu próprio sonho. Sonhava acordada consigo mesma e com a ilusão de um dia ser feliz.
Viajou os quatro cantos do mundo. Perseguiu seus medos, por medo que estes a perseguissem...
Parou várias vezes no meio do caminho para respirar, mas até o ar lhe custava caro; e ela não tinha como pagar.
Quis trabalho; ninguém lhe deu. E como se não bastasse, ninguém também lhe deu carinho e um quarto para dormir.
De volta aos quatro cantos da mesma parede, ela se deu conta que voltava ao mesmo lugar; de onde nunca deveria ter saído.
Era hora de acordar...

Alanna Sousa

quarta-feira, 26 de março de 2008

"Versos íntimos"

"Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que te afaga é a mesma que te apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija"
(Augusto dos Anjos)
Para bom entendedor, meia palavra basta.
(Puta demais para conseguir pensar e escrever algo concatenado aqui)

Alanna Sousa

domingo, 16 de março de 2008

"EU RIO DA CARA DO PERIGO"

E eu, que um dia temi à bichos-papões e à todas essas criaturas imagináveis, porém, inexistentes; hoje temo à vida.
Sim, à vida. A vida e a forma como se vive.
Já não me rendo mais à violência que se vê estampada nas capas de revistas e manchetes de jornais. Tampouco temo a morte; estas nos são inevitáveis.
Pergunto-me então: que devo eu temer, diante de tudo isso?
Temo a vida sem limites, o amor sem ilusão; temo a solidão.
Temo ao meu próximo, o meu semelhante, àquele que nos tira a vida sem pestanejar, sem chance para qualquer tipo de suplício. Temo-o não por que ele pode me levar de encontro com essa tal "morte", mas porque ele me pode tirar a vida.
Para quem não sabe viver, a linha que separa um termo do outro pode parecer tênue, quem sabe, até mesmo inexistente. Mas para mim, que vivo de sonhos e me alimentos dessas ilusões, a diferença me é tão notável, que chega a encomodar.
Mais do que temer aos homens, temo à mim mesma; pois ainda que o homem não seja o lobo do homem - como outrora dissera Hobbes -, sei também que cordeiro ele não o é.
E por temer tudo isso é que vivo assim: enfrentando meus temores, superando obstáculos e desafiando a mim mesma, sempre que possível; pois que perigoso mesmo é viver. E eu?!?... eu "rio da cara do perigo".


Alanna Sousa

sábado, 15 de março de 2008

Ladies and gentlemen, welcome to my mind!

"Invejo - mas não sei se invejo - aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer". (Fernando Pessoa)
Não, eu não pretendo fazer disso aqui um diário contando todos os pormenores da minha vida, tão pouco pretendo que as minhas idéias e pensamentos sejam considerados uma verdade absoluta. Mas ainda que nada disso seja, é, sem sombra de dúvidas a minha vida e as minhas verdades. Acredite se quiser. Entre, sente-se, leia, divirta-se e se possível, comente. Não que o seu comentário vá fazer (diretamente) muita diferença no meu modo de ver e pensar a realidade que vivo (que não necessariamente é a mesma de você), mas deve servir para alguma coisa. Além disso, críticas, sejam elas construtivas ou não (se é que isso é possível), serve para perceber quão diferente são as pessoas, e portanto, o seu modo de pensar.
Também não quero fazer disso aqui uma biografia, pois ninguém está apto a fazê-la. Ninguém pode saber tanto sobre a vida de alguém a ponto de resumí-la em páginas frágeis de papel que sucumbirão ao tempo, ninguém, nem mesmo eu seria capaz de escrever sobre mim mesma. Ninguém se conhece tão bem a ponto de se descrever em uma autobigrafia. E isso é fácil de se comprovar, basta ficar diante de uma situação inusitada para percebemos que jamais se pensava em reagir daquela maneira. Portanto, como disse antes, entre e sinta-se a vontade. A casa é sua, mas a vida é minha, sendo assim, começo hoje a narrar minhas impressões com ou sem nexo. E ainda que nada disso faça sentido para mim ou para vocês, "são as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer".