segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Muito prazer: me chamo Brasil"

O Brasil, país da desigualdade, vive desigualmente momentos de avanços iguais. Igual é queda do número de desempregados e o aumento da violência; enquanto uns lutam por emprego, outros, tão mortos de fome, lutam por um pedaço de grade para se amarrar e dormir,dentro de uma cela, tentando sobreviver a mais uma noite na prisão.
“A crise é dos ricos”, disse o Presidente Lula no Fórum Social Mundial de 2009, em Belém-PA. Também são dos ricos os avanços científicos e tecnológicos que geram mais lucro pros seus bolsos e mais pobreza para suas cobaias. Crise essa que fez aparecer dinheiro, sabe-se lá de onde, para salvar os seus bancos e empresas privadas; geradores da crise.
Fala-se em mandar ajuda aos povos africanos que morrem de Aids e de fome; esquece-se de salvar os cariocas do mosquito da dengue e os maranhenses e catarinense desabrigados pelas enchentes.
Talvez, se se tratasse os iguais com igualdade e os desiguais com desigualdade, como já pregou Bobbio, as balanças econômica e social se equilibrassem. Mas como isso não acontece, todos são tratados com “igualdade”, haja vista ser um “mandamento constitucional”, e a desigualdade apenas se perpetua.
E em meio a tudo isso, ainda se houve falar em direitos humanos. Mas de que humanos está se falando? De humanos demasiadamente humanos que tratam os seus iguais com desigual desumanidade e os deixam à margem da igualdade.

Alanna Sousa Coolerman

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Ladies and Gentleman, welcome aboard"

E ela viajava em busca de um velho-novo. Chega, sozinha, ao aeroporto, lotado; vê gente. Tenta se encontrar no meio da multidão. Choque de culturas, línguas, interesses?!? Enquanto uns correm e imploram a atenção de famosos, ela ri da mediocridade, ou da facilidade de se fazer um brasileiro, feliz.
Aguarda, sentada (quando dá) na sala de espera, também lotada. O vôo está atrasado: caos aéreo; tem mais avião voando do que nuvens enfeitando o céu. Quem mandou serem feitas de algodão? Os pilotos passam por cima.
Chamada para embarque: a fila cresce, e ela vai caminhando para o seu portão enquanto ouve: “senhoras e senhores, chamamos para embarcar no Voo 123, com destino qualquer. Convidamos para embarcar primeiramente idosos, crianças, gestantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Do meu lado direito, favor fazer fila as pessoas com assentos marcados de x a y. Ao meu lado esquerdo, favor fazer fila as pessoas com assentos marcados de y a z”. Fica na fila. Ticket: ok! “Faça uma boa viagem”.
Chega no avião: rostos (des)conhecidos esperam, sentados. O corredor, apertado, vira passarela: políticos, modelos, músicos, artistas, “ordinary people”.
Procura o assento e checa o bilhete para saber se é ela que ela está no lugar certo, ou se a pessoa sentada no seu suposto assento, é quem está errada. Já aconteceu de os números serem iguais?!?... culpa da aeromoça que disse que não precisava descer em uma CONEXÃO.
Finalmente encontra o assento certo; às vezes, praticamente na cozinha – e pensa: “devia ter feito o check-in pela internet” -. Pelo menos está mais perto do banheiro. Torce para ainda ter espaço no compartimento de bagagem – e pensa: “para que eu trouxe tanta tralha?”.
Hora de sentar: TENSÃO! a) se pegou o corredor: ótimo. O joelho corrompido pelos anos de judô e os kilos a mais, agradece; b) Janela: tem onde apoiar o pescoço, pode olhar o Cristo Redentor do alto e tentar descobrir se as nuvens são de fato “feitas de algodão”; c) Corredor: LASCOU! – e pensa, novamente: “por que raios eu não fiz a porcaria do check-in pela internet??”.
Enfim, senta! Ajeita o assento, afivela o cinto e tira os fones do ouvido, só para evitar matar uma aeromoça “delicada” que não sabe como te acordar, no meio da viagem.
Começa a aquela velha ladainha: “portas de emergência...; luzes ao chão...; máscaras cairão...”; e, finalmente, o triste “obrigado por escolher a nossa companhia aérea” (ok, o discurso muda, um pouco, de companhia para companhia, mas eu também não estou muito afim de fazer propaganda de graça). Como se a gente realmente tivesse muita opção para se escolher.
Escolhe-se entre voar no horário mas voar apertado e comer barras de cereal com suco de laranja (para os de dieta) ou comer amendoim com Xingu (para os gordinhos); ou se estressar no check-in que foi encerrado 1hora antes do previsto - pelo simples fato da companhia ter vendido mais passagens do que assentos disponíveis no vôo, e tu, “perdeu, playboy”. Aguarda eles te encaixarem no próximo vôo e, se tiver saco, entra na justiça reclamando danos morais (já que no Brasil, tudo é motivo para entrar com ação com pedido de danos morais) -, voar atrasado, mas voar “pseudamente” menos apertado, e comer pão – de três dias – requentado, que pelo menos, enche mais e ajuda a enganar, melhor, as lombrigas.
De repente: “tripulação, decolagem autorizada”. Faz o sinal da cruz 3xs (já nem sabe mais se por fé ou superstição), beija a tattoo do Cristo, na nuca, fecha os olhos para não sentir enjôo, e, finalmente, decola.
Sempre dá a sorte de sentar perto de uma criança que tá aprendendo a falar, e por isso não cala a boca a viagem inteira; ou de um bebê que chora por não agüentar a pressão e sentir dor no ouvido; ou de um garoto que se acha a nova estrela do Rock com o seu novo violão, que foi, com muita dificuldade, acomodado em algum canto do avião, pela generosa aeromoça, e ainda fica olhando o visor do teu celular pra saber que música tu está escutando, só para puxar assunto.
O sinal de afivelar cintos, é apagado: põe os fones de volta nos ouvidos e procura por assentos vazios para deitar e, com sorte, encontra (quando não voa, é claro, por aquela companhia lá de cima, que vende passagens a mais, atrasa vôos e causa “overbookings”).
Quando finalmente deita, o avião começa a chacoalhar e o sinal de afivelar cintos é reaceso: “com sua atenção, senhoras e senhores: aqui é o comandante da cabine. Pedimos que afivelem os cintos, pois estamos atravessando uma área de instabilidade”. Aí ela pensa: “ou eu sento para colocar o cinto e tento dormir, sentada; ou finjo que não ouvi e continuo deitada”. Mas lembra de ter visto na TV, pessoas que arrebentaram o teto do avião (e a cabeça, por óbvio) por não estarem com o cinto afivelado e terem sido pegas de surpresa em uma turbulência com direito a vácuos no ar. Imediatamente ela senta e afivela o tal do cinto: “Ok. Durmo sentada para evitar dor de cabeça”. Assim que se senta, o sinal de afivelar cinto é novamente apagado. Deita. O sinal é reaceso: “atenção, tripulação, preparar para o pouso”.
Finalmente, pousa. E escuta o velho discurso, inútil, de sempre: “Senhores passageiros, bem-vindos ao seu destino. Favor permanecerem sentados até que o aviso de afivelar cintos seja apagado. Lembramos que não é permitido fumar a bordo, e que o uso de aparelhos celulares só é permitido no saguão do aeroporto”. NINGUÉM OBEDECE! “Passageiros em trânsito para X, favor permanecer na aeronave. Passageiros com destino a essa localidade, favor desembarcar. Passageiros em conexão, favor desembarcar e aguardar informação no saguão”.
Vai esperar a bagagem. A sua está vindo no ÚLTIMO carrinho – e pensa: “isso é que dá trazer uma mala tão grande. Bom, mas pelo menos não foi extraviada”.
Chega ao saguão do aeroporto. Lá fora, ninguém lhe espera, a não ser o pobre e cansado taxista que mal abre os olhos por que passou a madrugada trabalhando, mas tem que trabalhar mais, por que, no fim das contas, “acaba a grana, mês ainda tem”.
Em meio a tantas viagens, tanta gente, tantos transtornos, encontros e desencontros conclui que aquilo ali é a forma que ela tem de fugir da rotina; é a sua válvula de escape. Aonde vai leva um pouquinho de si e deixa por onde passar; traz de volta o mundo dos lugares e pessoas que conheceu. Talvez, perdida na multidão de muitos outros, se encontre, ou se perca de vez...


Alanna Sousa Coolerman