Foi divulgada essa semana uma entrevista em que o nosso caro e pomposo Presidente Lula comenta as escutas telefônicas do Sarney; o mesmo pareceu irritado com as denúncias e os (pré)julgamentos feitos não só pela sociedade como também por políticos e parlamentares, tendo em vista que tais denúncias estão sendo feitas baseadas “apenas” em grampos telefônicos. Para Lula, “Não podemos tratar tudo como se fosse crime de pena de morte”. Ainda na mesma entrevista, o mesmo continuou afirmando que “É preciso saber o tamanho do crime. Uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir emprego, outra é fazer lobby. Tem que fazer as investigações corretas”.
É perceptível aqui a grandiosidade do problema que o Brasil alcançou, quando ouvimos o próprio chefe de nosso Estado falar tamanha barbaridade para todo o país ouvir. Percebe-se mais uma vez uma grande inversão de valores na nossa sociedade, onde os crimes de colarinho branco (atos secretos, lobbys, lavagem de dinheiro etc) passam desapercebido na grande maioria das vezes e, quando são divulgados e criticados, parecem ter o apoio de nosso presidente. Ora, meu caro Molusco, não há dúvidas de que todo crime deve ser julgado antes de condenado; isso é princípio processual. O que não entendo é o porquê de tal princípio só ser “clamado” quando o réu é um velho, branco, barbudo e rico (à custa do pobre povo maranhense). O mesmo não ocorre com o preto e o pobre.
Nossos valores foram invertidos; agigantamos o problema da violência urbana em prol da minimização dos crimes de colarinho branco, sem nos dar conta da relação mútua entre um e outro. O Lula fala em roubo e homicídio como grandes bestas-feras (e propõe a pena de morte como solução) enquanto que trata o lobby como um crime qualquer. O problema talvez esteja na mania que temos de culpar sempre o elo mais fraco da relação. Como diria uma ex-Profa. minha, quando se trata de violência, temos o costume de ligar tal palavra com sangue ou algo do tipo. Lesão corporal se resume à cortes de faca e perfurações à bala. Mas não seriam lesões corporais, por parte do Estado, não prover alimentação e moradia ao seu povo? O corpo de uma criança que bebe, toma banho e pisa em água contaminada por falta de saneamento básico não seria um tipo de lesão corporal? E não seriam esses tipos de crimes, merecedores de uma pena de morte (caso a mesma viesse a fazer, de alguma forma, sentido?) E de quem é a culpa? Não seriam, também, de nossos governantes que desviam dinheiro público para contratar parentes e empregadas domésticas e “conselheiros espirituais” com salários de R$ 8.000,00?
O que falta para o Brasil crescer é saber pôr cada coisa em seu devido lugar, é o povo se levantar e lutar pelo o que é seu de direito. Não basta votar (e até votos estão sendo desrespeitados), mas saber brigar pelo seu voto. É não tapar os olhos para certos crimes e abrir a boca apenas pra reproduzir o discurso do senso comum. É saber ser cidadão de direitos muito mais que somente nos dias de eleição.
Espero que todos esses vexames transformados em denúncias dêem algum resultado; que não sejam ofuscados por escândalos da vida pessoal de um político, mas que seja levado em conta o escândalo de sua vida pública para com o seu povo; que não seja esquecido pela ansiedade de uma copa do mundo ou por números falaciosos jogados na mídia. Que a justiça seja feita de maneira realmente justa, não só com crimes políticos, mas, e principalmente, com os crimes de violência urbana, cujo tratamento costuma ser desigual. Quanto ao pronunciamento do nosso Presidente, eu só tenho a lamentar... tanto quanto tudo o mais que ele costuma dizer e fazer.
Alanna Yara Sousa
sexta-feira, 24 de julho de 2009
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