quarta-feira, 5 de agosto de 2009

CRITICA DE ARIANO SUASSUNA SOBRE O FORRÓ ATUAL

"Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!".
A maioria das moças, levanta a mão.Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda (que se diz de forró) utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas as bandas do gênero). As outras são "gaia", "cabaré", e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste pernambucano (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da Banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de "forró", e Ariano exclamou: "Eita que é pior do que eu pensava". Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura); Zé Priquito (Duquinha); Fiel à putaria (Felipão Forró Moral); Chefe do puteiro (Aviões do forró); Mulher roleira (Saia Rodada); Mulher roleira a resposta (Forró Real); Chico Rola (Bonde do Forró); Banho de língua (Solteirões do Forró); Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal); Dinheiro na mão; calcinha no chão (Saia Rodada); Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca); Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró); Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.Porém a culpa desta "desculhambaçã o" não é exatamente das bandas ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo... E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando- se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado, Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa!!!Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!?!?!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é "E vou dá-lhe de cano de ferro!", alguma coisa está muito doente.
Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.Ariano Suassuna

Um comentário:

Laíza Braga Rabêlo disse...

Ótima postagem Alana. É simplesmete triste perceber que um rítimo genuinamente brasileiro, nordestino, agora passa a ser sinônimo de vulgaridade, são simplesmente músicas extremamente vulgares que não merecem o público que essas bandas conseguem reunir em um show.
Quando não se trata da vulgariade embutida, são os erros gritantes de português, erros esses que percebem-se propositais, de acordo o a "liberdade poética", convenhamos que até a liberdade poética possui limites, limites que não permitem chegar ao ridículo, ao ridículo que o forró universitário, o forró "dos play", conseguiu chegar, com músicas tais como "A dança da piroca torta"!
Gosto de forró, gosto de dançar forró, e é ver isso, presenciar isso, que me deixa mais triste. Acredito que o pior é a politicagem envolvida, uma banda de forró ganha milhares de reias pra cantar em uma praça no interior, dinherio pago pela prefeitura, e passam o show inteiro fazendo a propaganda do filho do prefeito, do prefeito, do vice-prefeito, etc. Sem contar que para inaugurar um hospital, uma escola, deve ter uma banda que o cachê é mais caro que a própria obra!
Talvez seja a exposição da degradação a qual chegamos, com um senado que possui uma majestade que nem por decreto larga o trono, ou a manipulação da religião pra ganho pessoal, ou quem sabe as outras cafagestagens que presenciamos no nosso dia-a-dia, é... pode ser isso.
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