sábado, 20 de novembro de 2010
"Madness"
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Manchete: Travesti com HIV injeta sangue infectado em enfermeiras de Brasília.
O que mais me chamou a atenção nessa manchete não é a gravidade (dada pela mídia) da situação, mas, a perda da identidade do agressor, por parte de quem a escreveu. A mesma não dá a devida importância ao caso, em si. Não enfatiza o caos em que se transformou a questão da saúde brasileira e a precariedade das instituições públicas que, por falta de contingente e estrutura, deixam mais que a desejar.
Sendo assim, é preferível (leia-se: mais vendável e rentável) tratar a matéria sob outra perspectiva: a da (falta de) identidade do(a) agressor(a). Na própria matéria não se define quem praticou a ação; a manchete fala no masculino enquanto que, no seu desenvolver, os depoimentos das testemunhas se referem à pessoa na sua forma feminina.
Homem ou mulher, o “personagem” dessa “história” parece ser “assexuado” e não ter identidade. Quem quer que tenha escrito essa reportagem, sequer se deu ao trabalho de descobrir o nome da pessoa, bastou denominá-lo de “o travesti”.
É como se quisessem alertar a sociedade: “cuidado: travesti à solta, com seringa infectada pelo vírus do HIV, em punhos.” Passa-se a idéia de que o mesmo só agiu assim, por ser travesti. É como se não tivesse escrúpulos e nem princípios, já que também não tem sexo definido.
Portanto, pouco importa se o mesmo agiu por impulso, por revolta e por desespero (não que justifique a sua atitude, mas, no mínimo, têm-se um “porque”), depois de passar mais de 5 horas no corredor de um hospital, esperando que sua amiga, que estava passando mal, fosse atendida. O que ficou claro era que o fato foi cometido por um TRAVESTI, e, portanto, merece toda e qualquer forma de repúdio pela sociedade.
Como já era de se esperar, o caso só poderia ir parar na delegacia e ser tratado pelas mãos do Estado penal: “De acordo com o delegado Onofre de Moares, o travesti vai responder por tentativa de duplo homicídio. “A partir do momento que ficou constatado no laudo que ele é soropositivo, vai responder por duas tentativas de homicídio qualificado. A pena para cada tentativa é de 12 a 30 anos, diminuída de um ou dois terços porque foi tentativa, e não homicídio consumado”, explicou o delegado.” Só não entendi o nexo de causalidade entre o fato em si, e a punição a qual será submetido o agressor. Dupla tentativa de homicídio qualificado?
Duas perguntas merecem ser feitas ao se ler essa reportagem: 1) está se punindo o fato, em si, ou o AUTOR? 2) se a repressão diz respeito ao fato, por que não julgar, também, o Estado, por não prover o devido e necessário atendimento aos seus pacientes? Uma pessoa que passa 5 horas, agonizando, no corredor de um hospital, não está sendo lesada? Não cabe falar, então, em tentativa de homicídio? E também qualificado (ressaltando o papel de garante do Estado)? Sem contar, é claro, os inúmeros casos de mortes consumadas, por falta de atendimento, ou por infecções causadas pelas péssimas condições sanitárias dos hospitais, ou mesmo pela imperícia, imprudência e negligência de seus funcionários.
Penso que enquanto não soubermos responder tais perguntas, ou mesmo não ousarmos fazê-las, em voz alta, o Estado vai continuar punindo quem quiser e como bem quiser. Resta então torcer para não sermos a sua próxima vítima.
Para ler a reportagem na íntegra: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/travesti-com-hiv-injeta-sangue-infectado-em-enfermeiras.html
Alanna Sousa
terça-feira, 15 de junho de 2010
"O escafandro e a borboleta"
“Hoje sinto que a minha vida é uma série de frustrações. Mulheres que não fui capaz de amar, oportunidades que eu não soube avaliar, momentos de felicidade que deixei escapar. Uma corrida cujo resultado eu conhecia de antemão, mas falhei em escolher o vencedor. Tenho sido cego e surdo, ou o duro golpe me fez descobrir minha verdadeira natureza?”
Quantos de nós estão presos em escafandros pessoais, corporais, mentais? Estão cercados de água, sem peixes pra dizer “oi”, de vez em quando? Essa a é a realidade de muitos, por mais que tentem disfarçar com “sorrisos indecisos” que, a sós, se convertem em lágrimas soltas.
O mundo é mesmo muito injusto, dizem. Mas o que se tem feito para torná-lo mais justo? Ficar deitado na cama, num quarto escuro, o dia inteiro, não ajuda muito. Andamos cegos e surdos para a nossa própria realidade. E às vezes só enxergamos a nossa cegueira e escutamos o nosso silencio quando somos, de fato, atingidos por um duro golpe. Aí chega o tempo das lamentações, dos arrependimentos do que se fez e se deixou de fazer.
“Através da cortina em fiapos, um tênue brilho anuncia a o raiar do dia. Meus calcanhares doem, minha cabeça pesa uma tonelada, todo o meu corpo está encerrado em uma espécie de escafandro. Minha tarefa agora é escrever as inertes anotações de viagem de um náufrago nas praias da solidão.”
No fim, nos resumimos a anotações feitas em um pedaço de papel qualquer, escondido em algum canto daquela gaveta que nunca ousamos abrir, porque as baratas do tempo podem nos assombrar. A gente escreve e joga lá, achando que isso vai fazer uma diferença danada, quando na verdade, só se transforma em uma pilha de papel que dificilmente será lido, um dia, por alguém. São nossas reclamações e arrependimentos, que ninguém ouve. Que nós mesmos não queremos ouvir.
Nosso escafandro, jogado ao mar, está preso a uma corda que está na terra, e nós rezamos para sermos puxados de volta a ela. Ninguém quer se dar ao trabalho de nadar. A inércia toma conta daquele corpo, pesado pelas lamentações, e nos mantém debaixo d água.
“Como um marinheiro que vê a praia desaparecer, vejo meu passado se afastar reduzido às cinzas da memória.”.
Essas memórias são traiçoeiras, e costumam falhar. Talvez seja tempo de reavivá-las, ou mesmo de nunca as deixar morrer. “É tempo de me fazer, eu sei”, diria o Caio. É tempo de nadar rumo à superfície, e ao entrar em contato com o ar terreno, se fazer borboleta e voar pelo mundo afora.
É tempo de se criar asas e voar por nossos próprios jardins, aqueles cultivados por nós mesmos, cujas flores precisam ser regadas, para então, serem colhidas.
É tempo de se livrar de nossas armaduras e armadilhas, e voar. Porque ser feliz é tão simples quanto o bater de asas de uma borboleta.
Alanna Sousa
sábado, 12 de junho de 2010
"Para os (e)namorados"
Para aqueles que tanto se orgulham de poder comemorar o dia de hoje (ontem) e para aqueles que não precisam de UM dia para isso, pois já sentem orgulho nos outros 364 dias do ano, eis a minha mensagem:
"Fathers, be good to your daughters
Daughters will love like you do
Girls become lovers who turn into mothers
So mothers, be good to your daughters too" (John Mayer - Daughters)
"Até quando?"
quinta-feira, 10 de junho de 2010
"Foi dada a largada"
"O que é bonito"
terça-feira, 1 de junho de 2010
"We said NEVER AGAIN"
A história tem sido contada diversas vezes, com o passar dos anos. Não importa quem conta ou como é contada, nada muda o fato de que a humanidade fora destruída pela ideologia (bem plantada) de uma raça pura. Eles escolherem quem eles queriam exterminar. Eles se autodenominaram os escolhidos, os únicos e se chamaram nazistas.
Negros, judeus, homossexuais, deficientes, mulheres e crianças: estes foram os escolhidos por eles e em nome de Deus (que deus??), para morrerem em prol da salvação da nação e gerações futuras. Naquele tempo eles podiam se chamar heróis, ainda que alguns poucos os chamassem de monstros (aqueles escolhidos, por eles, para virar fumaça e escurecer os céus daquela nação).
Atualmente, nós os chamamos de monstros, loucos, animais. E a gente acha que tem esse direito. Mas nós não somos diferentes deles: nós também escolhemos os negros, homossexuais, deficientes, idosos e mulheres (só excluímos as crianças, por serem o “futuro da nação”, e os judeus, porque o judaísmo não está mais tão em voga).
Nós também escolhemos os pobres, os não-cristãos, os presidiários, os latinos, os índios, entre outras minorias (não em quantidade, mas em sede de igualdade de direitos, direitos efetivados, e interesses distintos daqueles mantedores do status quo da sociedade) para serem segregados. E nós nos autodenominamos HUMANOS!
Não há mais campos de concentração. Estes foram tomados por campos de SEGREGAÇÃO, construídos por nós, também em nome de uma ideologia da pureza e soberania racial, econômica, classista e de gênero. Hoje existem guetos, favelas, subúrbios, manicômios, presídios. E ainda assim, nós nos chamamos HUMANOS!
Eis a questão: que tipo de humanos somos nós que apoiamos (por omissão ou comissão; direta ou indiretamente) o racismo, a homofobia, o preconceito em geral? Que tipo de humanos somos nós que construímos presídios e jogamos negros e pobres (em sua absurda maioria) lá, como quem joga dejetos na calçada (sempre à margem do principal) e, ainda, com a desculpa de querermos transformá-los em humanos? Nós que tratamos a união afetiva como uma sociedade de fato e não a aceitamos como uma sociedade de afeto. Que não permitimos a adoção de crianças por casais homossexuais. Que tratamos a mulher como o sexo frágil e, por isso, merecedora de submissão masculina. Nós que fazemos guerra em nome da paz (que paz?). Nós, os corruptos. Nós, os hipócritas!
Nós não nos consideramos preconceituosos. Não até que a nossa filha traga pra casa o seu namorado, negro, ou que o nosso filho traga pra casa, simplesmente, o seu namorado. Nós não empregamos ex-presidiários. Nós criminalizamos os movimentos sociais. Nós não aceitamos o crime de estupro ser alegado por uma prostituta. Nós aplaudimos o BOPE e elegemos o Capitão Nascimento como herói da nação.
Somos humanos, ou somos nazistas? A diferença é morfológica, gramatical, simbológica. Nós temos o direito de chamarmos os nazistas de monstros, nos dias de hoje? Não. Eu repito: não há diferença entre nós e eles. E se há, é uma questão de orgulho e bravura. Eles foram bravos o suficiente para se chamarem de nazistas e ter orgulho disso. E nós, nós não passamos de hipócritas que os condenamos por agirem como agimos hoje, por tratarem seus iguais com desumanidade.
Hoje nós tememos a Terceira Guerra Mundial sem nos darmos conta que a Segunda nunca terminou. “And we said NEVER AGAIN!!”