“Hoje sinto que a minha vida é uma série de frustrações. Mulheres que não fui capaz de amar, oportunidades que eu não soube avaliar, momentos de felicidade que deixei escapar. Uma corrida cujo resultado eu conhecia de antemão, mas falhei em escolher o vencedor. Tenho sido cego e surdo, ou o duro golpe me fez descobrir minha verdadeira natureza?”
Quantos de nós estão presos em escafandros pessoais, corporais, mentais? Estão cercados de água, sem peixes pra dizer “oi”, de vez em quando? Essa a é a realidade de muitos, por mais que tentem disfarçar com “sorrisos indecisos” que, a sós, se convertem em lágrimas soltas.
O mundo é mesmo muito injusto, dizem. Mas o que se tem feito para torná-lo mais justo? Ficar deitado na cama, num quarto escuro, o dia inteiro, não ajuda muito. Andamos cegos e surdos para a nossa própria realidade. E às vezes só enxergamos a nossa cegueira e escutamos o nosso silencio quando somos, de fato, atingidos por um duro golpe. Aí chega o tempo das lamentações, dos arrependimentos do que se fez e se deixou de fazer.
“Através da cortina em fiapos, um tênue brilho anuncia a o raiar do dia. Meus calcanhares doem, minha cabeça pesa uma tonelada, todo o meu corpo está encerrado em uma espécie de escafandro. Minha tarefa agora é escrever as inertes anotações de viagem de um náufrago nas praias da solidão.”
No fim, nos resumimos a anotações feitas em um pedaço de papel qualquer, escondido em algum canto daquela gaveta que nunca ousamos abrir, porque as baratas do tempo podem nos assombrar. A gente escreve e joga lá, achando que isso vai fazer uma diferença danada, quando na verdade, só se transforma em uma pilha de papel que dificilmente será lido, um dia, por alguém. São nossas reclamações e arrependimentos, que ninguém ouve. Que nós mesmos não queremos ouvir.
Nosso escafandro, jogado ao mar, está preso a uma corda que está na terra, e nós rezamos para sermos puxados de volta a ela. Ninguém quer se dar ao trabalho de nadar. A inércia toma conta daquele corpo, pesado pelas lamentações, e nos mantém debaixo d água.
“Como um marinheiro que vê a praia desaparecer, vejo meu passado se afastar reduzido às cinzas da memória.”.
Essas memórias são traiçoeiras, e costumam falhar. Talvez seja tempo de reavivá-las, ou mesmo de nunca as deixar morrer. “É tempo de me fazer, eu sei”, diria o Caio. É tempo de nadar rumo à superfície, e ao entrar em contato com o ar terreno, se fazer borboleta e voar pelo mundo afora.
É tempo de se criar asas e voar por nossos próprios jardins, aqueles cultivados por nós mesmos, cujas flores precisam ser regadas, para então, serem colhidas.
É tempo de se livrar de nossas armaduras e armadilhas, e voar. Porque ser feliz é tão simples quanto o bater de asas de uma borboleta.
Alanna Sousa
Um comentário:
Bah, muito bom seu blog!
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