sábado, 12 de junho de 2010

"Até quando?"






"Não apenas por pena de exílio os povos marinheiros perdem seus mares.
Dia sim, e o outro também, a maré negra, pegajosa e mortal, ataca as águas e suas margens. No final do ano de 2002, um barco petroleiro, partido pelo meio, vomitou seu veneno sobre a Galícia e mais além.
A costa, negra de petróleo, se encheu de cruzes. Os peixes mortos e as aves mortas flutuavam na podridão das águas.
O Estado? Cego. O governo? Surdo.
Mas os pescadores, barcos ancorados, redes recolhidas, não estavam sozinhos. Milhares e milhares de voluntários enfrentaram, com eles, a invasão inimiga. Armados de pás e tachos e do que puderam encontrar, foram despindo trabalhosamente, dia após dia, semana após semana, as areias e as rochas que o petróleo havia vestido de luto.
Essas muitas mãos, estavam mudas? Elas não pronunciavam discursos de teatro. Fazendo diziam, em galego: Nunca máis." (Eduardo Galeano - Bocas do Tempo, 2004, p. 84).


O texto foi escrito em 2002. As charges, são recentes. Galeano tem o dom de escrever em um só tempo, todos os três. Em 2002, aquele presente era uma mensagem que não deveria se repetir no futuro. Hoje, 2002 é passado. Passado que se faz presente e que provavelmente está prevendo, novamente, o futuro.
Ou o povo galego não tinha noção de tempo, ou não tinha noção de vocabulário. O certo é que o "Nunca máis" dito há 8 anos, está batendo à nossa porta. Até quando?

Alanna Sousa



(Legenda Charge 1: "Ele foi deixado para trás para extrair o último barril bruto da Terra")




Um comentário:

Elle disse...

Até quando? E essa pergunta para sempre na minha mente ecoando...

Eco-ando.. na verdade um eco-humano-retroage..parado.. estagnado.. emburrecido.. petrificado..